Diz, o que te oprimiu?
O tilintar eletrônico, o torno, as bolsas de ocasião?
As consequências já superaram as causas?
Não são eles, somos nós
A repulsa prescinde ódios
Precede a ética
Impossível pensar,
É possível sentir: aquele coração nunca foi valente
Pulsou, covarde
E a tirania, vem a cavalo
O poder mal incensou-se das urnas
Para, no dia seguinte, esquecer tudo
Para impor
Permutar tua liberdade
E, nós,
Órfãos de vozes,
Reféns das armadilhas!
Da avidez pelo poder
Amanhecemos embrutecidos.
Preconceituosos, ofendidos e perplexos
Para descobrir que brutalizar,
Não é só mais uma arma, mas a principal
Racha-se sem alarde
Conclama-se ao conflito,
Trama-se sob martelos e tribunas
E a fala desmente as bocas
Na conversa que apostava na falência dos diálogos
Não somos nós, somos todos
Mesmo assim, o momento
Demanda intransigência
Restam luto,
Desobediência civil e resistência não violenta:
Diz-se que quando os reis se despem
Só o engano reluz:
E não é ouro.