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Crônica, política e derivações

Spleen político

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

Spleen - A Spongy gland above the kidney, supposed by the ancients to be the seat of anger and ill-humoured, melancholy in Skeat, W.W. Etymological Dictionary of the English Language. Oxford, 1882 

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Num lugar distante, depois de uma intensa conflagração não violenta, que não era nem exceção nem golpe, uma epidemia de depressão assolou o País continental. Um tipo de distúrbio jamais detectado pela medicina. Reconhecendo a calamidade a Organização Mundial de Saúde classificou o fenômeno como "spleen político". Como zumbis, pessoas e tribos sem filiação vagavam pelas ruas tentando encontrar algum código, pistas, de qualquer forma algum sistema de identidade que permitisse qualquer reagrupamento. Parecia impossível. Os grupos anti e a favor se insultavam mesmo tendo passado quase dois anos do embate que determinou a reclusão de boa parte da elite governante.

As pessoas relatavam sintomas semelhantes e muitas sensações análogas. Um filósofo decidiu fazer o registro de suas entrevistas.  Os testes psicométricos informavam estranhos depoimentos:

-- Qual é a sua sensação com a situação atual?

-- É como ter tirado um peso enorme das costas, mas sem nenhum alivio.

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-- Elas se livraram de algo, que agora parece ter grudado na gente.

--Estou carregando um fardo estranho, sei que não é meu.

Na época, o coordenador das pesquisas, Terco Mora, arriscou um ensaio publicado em jornal de grande circulação:

"A falta de perspectiva se tornou tão intensa que o alivio por ter se livrado de uma tirania assemelhava-se ao de ter se livrado de uma patologia grave: ou seja mesmo livrando-se dela, sentimos que não houve ganho algum. Velhos clínicos discordariam, assim como no aforismo de Heráclito de Éfeso "ninguém entra duas vezes no mesmo rio" ninguém sai ileso de um trauma. Assim como nunca um corpo afetado por uma doença jamais tem restituição integral, a experiência de ter sido tiranizado e a redescoberta que só as ruas esvaziam palácios, marcará a memória coletiva. Apesar de muitos terem apostado na amnésia, prevejo,  o País nunca mais será o mesmo. Para conservar sua feição essencial as Democracias precisam renunciar à toda tentação populista. Neutralizar as divisões insufladas? Massas não costumam fazer fusões. Para unificar um País é preciso, antes, reduzirmo-nos às unidades."

Antes da reviravolta, Terco foi preso e processado. Viveu exilado em Fernando de Noronha, na época transformada em colônia penal. Anos depois da crise, foi reincorporado à Universidade. Fundou o Ministério do Bem Estar, que presidiu até falecer. Sob sua gestão, o IDH do País teve inédito avanço e as transformações foram evidentes. Numa rara entrevista concedida para uma emissora de rádio de Brasília, falou sobre a superação do spleen político:

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-- Suas pesquisas foram fundamentais para mudar o ambiente político, o Senhor poderia explicar qual é o mais importante indicador de felicidade?

-- De todos os marcadores testados, o vital no bem estar são as relações entre as pessoas.

http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/spleen-politico

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Prezados amigos do blog e colegas jornalistas, convido todos para o lançamento do meu livro "Céu Subterrâneo" que acaba de ser editado pela editora Perspectiva. Trata-se de uma ficção escrita a partir de uma estadia em Israel e definido pela professora titular de literatura da USP Berta Waldmann, que assina a apresentação, como "Um Midrash brasileiro". Também contei com a preciosa apresentação da Professora Lyslei Nascimento da UFMG que elaborou a orelha do livro. A lista de pessoas para agradecer é bastante extensa. Pretendo fazer isso pessoalmente. Então amigos, será dia 17/05 as 18:30 na livraria Cultura do Conjunto Nacional. Agradeço antecipadamente a quem puder vir, compartilhar e divulgar para outras pessoas. Um grande abraço, Paulo Rosenbaum

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 Foto: Estadão

 

 

 

 

 

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