Enquanto à terra desce, o País reflui. Plantou-se inconsequência e ganância, colhemos enrijecimento e litigância. Quando não há saída à vista, o retorno está na imaginação. Começou como uma visita da comitiva de ideologia reversa. Imaginem uma nação de cidadãos condenados à desconfiança prévia. Imaginem exércitos alternativos convocados à cada ameaça. Imaginem dilemas e pirraças. Da morosidade do álibi ao juízo oscilante. Imaginem literatura e jornalismo, enredados e cooptados. Imaginem a democracia como arranjo transitório. Imaginem probidade como elemento rarefeito. Imaginem presos políticos com pesos simbólicos distintos. Imaginem partidos e massas uniformes. Areia do mesmo deserto. Imaginem a violência sem fronteiras, chumbo e aço. Imaginem, enfim, o colapso.
Agora, imaginem outra República:
Imaginem o mundo na mesma embarcação. Imaginem se qualquer um de nós fosse idêntico. Igualdades como oportunidades. Imaginem se as discórdias não fossem perigosas. Imaginem contágio de liberdades. Centros e periferias em bordas trançadas. Imaginem austeridade como qualidade. Imaginem um conforto viral. Imaginem se acordássemos para o verso. Imaginem uma transcendência laica, mística compartilhada, e prosas calcadas. Imaginem o Universo ao alcance da mão. Imaginem, de relance, a imortalidade crível. Sonhos, migrando ao factível. O sorriso ao incrível. O pálido ao corado. O duro ao movediço. O puro ao mestiço. O sonoro ao legível. O singular ao coletivo. A imaginação, máximo motor produtivo. Imaginem um campeonato de tolerâncias. Um novíssimo humanismo como essência. Imaginem decência.