Biografia de Tolstoi associa autor russo a personagens divididos de seus romances
Iásnaia Poliana é tudo menos um lugar comum. A propriedade está há muitas gerações no clã da família Tolstói, importante dinastia da aristocracia russa.
Segundo seu tataraneto, que esteve em São Paulo divulgando as atividades da fundação que dirige, a relação do escritor com a Iásnaia Poliana sempre esteve para bem além de uma simples moradia.
Para o escritor ali, em algum lugar ignoto dos arredores, esteve enterrada a vara verde. Instrumento mítico, se encontrado teria o poder para reconstruir o mundo, cujo máximo desdobramento se faria através de uma paz mundial inédita. Ele radicalizaria o pacifismo idealizado que mobilizou Tolstoi, especialmente em seus últimos anos de vida.
E, de fato, em pelo menos dois episódios pouco conhecidos da maioria, a propriedade pareceu ter adquirido parte das forças mágicas a ela atribuída. Na revolução de 1917, a área foi salva por camponeses dos incêndios revolucionários diante das turbas enfurecidas. Conta a tradição oral que uma multidão significativa, igualmente determinada, protegeu a área, impedindo a invasão, fazendo um escudo com seus corpos.
Pouco mais de um quarto de século depois, Iásnaia Poliana foi mais uma vez salva.
Desta vez, tratava-se do agressor nazista que se instalou na região. Quando as tropas alemãs pressentiram a derrocada no front russo resolveram deixar Iásnaia Poliana as pressas, onde haviam se instalado. Como de costume, pilharam a casa com todos os bens, livros, obras de arte e objetos do escritor. Instalaram o valioso espólio saqueado em uma caravana de carros e bateram em retirada. Deixaram um rastro de destruição e organizaram um incêndio.
Mais uma vez a população local veio em socorro das terras, controlou o incêndio e saiu à caça dos bens saqueados. Perseguiram as tropas germânicas e recuperaram a maior parte dos objetos saqueados.
A varinha verde, jamais encontrada, permaneceu no meio fio.