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Memória, gente e lugares

A guerra dos pastéis

Pastel de feira já chegou a ser proibido pela Prefeitura de São Paulo

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Por Edmundo Leite
Atualização:
Barraca da Agena, escolhida como melhor pastel. Foto: Werther Santana/Estadão

Pelo segundo ano consecutivo, São Paulo escolheu o seu melhor pastel de feira. A vencedora desse ano foi a barraca da Agena, que desbancou a campeã do ano passado, a Maria, que até abriu uma loja em Pinheiros depois da consagração no primeiro concurso.

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Se hoje é impossível imaginar uma feira sem barraca de pastel, a ponto de o quitute ser reconhecido oficialmente como um símbolo da cidade - com a prefeitura organizando o concurso e o próprio prefeito entregando pessoalmente o prêmio - os pasteleiros nem sempre contaram com a simpatia do poder público. Ao longo dos anos tiveram que lutar contra várias administrações desde que os primeiras cuias de óleo quente apareceram nas feiras livres da cidade.

Como a maioria do comércio informal, não se sabe com precisão quando começou o comércio de pastéis nas feiras. Alguns registros dizem que foram imigrantes japoneses da ilha de Okinawa - movidos pelo aperto econômico - que deram início à tradição.

A primeira regulamentação da categoria data de 1966. Mas isso não foi garantia de tranqüilidade para os pasteleiros. Nos anos 70 e 80 foram várias ações oficiais para coibir a venda de pastéis nas feiras. Enquanto algumas apertavam a fiscalização em torno de alvarás e condições sanitárias, outras pretendiam banir completamente os pastéis das feiras.

Era o que pretendia o prefeito Olavo Setúbal, que em 1978 baixou um decreto proibindo o comércio de pastéis nas feiras da capital. Os pasteleiros reagiram com pedido de mandado de segurança, protestos e pressão do sindicato junto aos vereadores.

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# Jornal da Tarde - 06/4/1978

Guerra do Pastel, reportagem de 1978 no Jornal da Tarde.  Foto: Acervo Estadão

A realidade dos pasteleiros não era muito diferente de seus colegas feirantes. Estudo recente apresentado num curso de especialização na Escola de Comunicação e Artes da USP mostra que as próprias feiras estiveram no alvo de várias administrações e que seu fim chegou a ser anunciado várias vezes.

Em 1978, a pressão contra o decreto de Setúbal deu certo e os pasteleiros continuaram nas feiras. Mas de tempos em tempos tiveram que enfrentar novas investidas de diferentes gestões da prefeitura.

Reportagem sobre pastel de feira.  Foto: Acervo Estadão

Mais que o apoio de suas associações e de alguns políticos, os pasteleiros contavam com um aliado poderoso que garantiria a sua permanência nas ruas: os consumidores.

Todos os dias, em diferentes pontos da cidade, milhares de pessoas que há muito deixaram de comprar frutas e hortaliças nas barracas de madeira cobertas com lona ou plástico vão às feiras em busca de um pedaço de massa recheado com os mais variados ingredientes.Aos pioneiros carne, queijo e palmito se juntaram uma infinidade de sabores, de preferência devorados acompanhados de um gelado caldo de cana. Uma guerra que valeu a pena.

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# Jornal da Tarde - 04/08/1976

Reportagem sobre pastel de feira.  Foto: Acervo Estadão

#1974 / 1977 / 1978

Reportagens sobre a guerra dos pastéis em São Paulo. Foto: Acervo Estadão
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