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O primeiro Barão

Disco de estreia do Barão Vermelho volta ao CD remixado pelos integrantes da banda e uma faixa bônus

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Por Edmundo Leite
Atualização:

Trinta anos atrás, quando revistas de música e seus colunistas ainda tinham alguma relevância, o crítico Ezequiel Neves era uma das estrelas das páginas impressas mensalmente para informar as novidades musicais ao público. Promíscuo e hiperativo, escrevia seus textos divertidos, debochados e exagerados para quase todas as publicações do ramo.

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Na edição de junho de 1982 da extinta revista Somtrês, até os leitores mais habituados ao estilo de Ezequiel ficaram curiosos após ler uma coluna de página inteira dedicada a um desconhecido conjunto de rock chamado Barão Vermelho.

“Com o volume no máximo do escândalo estou ouvindo uma fita transcendental. É coisa doméstica, gravada com um microfone só, mas que arroja uma torrente de adrenalina capaz de pulverizar quarteirões. É rock puro, demencial, imperfeito e carnívoro, trombetas selvagens anunciando o começo de um novo mundo. E, podem não acreditar, tudo é cantado em português - idioma totalmente, ou quase, avesso ao rock. Pela primeira vez em muitos meses sinto minha alma lavada, volto à adolescência, caio na pândega, o escambau!”

 Foto: Somtrês/Coleção Edmundo Leite

O som que funcionou como um elixir da juventude para Ezequiel era uma fita amadora, prévia do que viria a ser esse primeiro disco do Barão Vermelho que volta agora ao CD remixado pelos integrantes da banda e uma faixa bônus que não entrou no álbum original. Na coluna, Ezequiel dizia que sua vontade era pegar a fita daquele ensaio e tirar milhões de cópias. E, de certa forma, foi o que fez, já que assumiu a produção do disco de estreia da banda.

Sem intenção de mudar muita coisa no som de Cazuza, Frejat e cia - exceto um ou outro delírio progressivo do tecladista Maurício Barros -, Ezequiel e o diretor artístico Guto Graça Mello decidiram que as músicas seriam gravadas no sistema ‘ao vivo no estúdio’, com todos os músicos tocando seus instrumentos juntos para manter o clima da fita demo. Mas o discurso de liberdade criativa dos produtores não era tão verdadeiro assim. Na hora de fazer a mixagem e dar o acabamento às 10 faixas escolhidas, não quiseram os rapazes por perto.

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O resultado não agradou muito ao ouvidos dos barões, motivo da remixagem neste relançamento três décadas depois. Se Down em mim, Ponto Fraco e Todo Amor Que Houver Nessa Vida não se tornariam hits como os que viriam depois, serviram para mostrar que o saudoso colunista não estava só delirando de entusiasmo com o carisma de Cazuza e a guitarra de Frejat. Resta saber o que Ezequiel Neves acharia da sofisticada orquestração de cordas que resolveram colocar agora como fundo grandiloquente na faixa bônus Sorte e Azar.

Caderno 2 do Estadão em 19/1/2013.  Foto: Estadão

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