Num dia qualquer de março de 2016, um carro do Google passou pelo cruzamento das avenidas Itaberaba, Inajar de Souza e Deputado Cantidio Sampaio como faz por milhões de ruas mundo afora para fotografar vias e colocar em seus mapas.
Em meio às cenas cotidianas do bairro, as câmaras fotografaram um menino parado na porta da lanchonete Habib’s, um homem com roupas parecidas com as dos funcionários da casa de esfihas e uma catadora de papelão no outro lado da rua. Atrás da lanchonete, um outro catador de papelão. Mais adiante, uma viatura da Polícia Militar. Um dia ensolarado.
Quase um ano depois, num dia qualquer da rotina do bairro, personagens parecidos com os retratados pelas câmaras do Google se cruzariam novamente no mesmo local e um menino chamado João Victor morreria de bermudas arriadas após ser arrastado por dois funcionários da lanchonete e agonizar jogado na calçada. Um dia chuvoso e cinzento.
Nos anos 70, Balthazar cantava a música “Garoto de Rua”, lembrando da tragédia diária de crianças como João Victor.
“... O que será do seu futuro e de seu destino? Inocente criatura, Vai crescendo sem cultura...”
Garoto de Rua
Um garoto de rua
Me pediu um trocado
Para comprar um pão...
Lamentou sua fome
Não me disse o seu nome
Maltratando meu coração...
Segue tão maltrapilho
E de quem será filho
O garoto que estende a mão?
Provocando tumultos,
Endereços ocultos,
Precisando de educação.
Onde andará o responsável por este menino?
O que será do seu futuro e de seu destino?
Inocente criatura,
Vai crescendo sem cultura...
Prá onde vai esta criança que o mundo castiga?
Cadê seu pai e sua mãe a verdadeira amiga?
Ele tristemente respondeu -
Meu pai não sei, a minha mãe morreu!