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Memória, gente e lugares

Prêmio Multishow 2013 envergonha a TV brasileira

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Por Edmundo Leite
Atualização:
 Foto: Multishow

Sabe aquela situação em que amigos planejam fazer uma festinha e a coisa começa a crescer? A amiga animada vibra e diz que vai levar o amigo gay desbocado que vocês conheceram na balada para agitar. Uma figura. rs. Outro amigo fala que pode levar um DJ - brother meu - para fazer o som. E ainda tem aquele que lembra da banda de amigos que manda covers de rock super bem. E como o primo - praticamente irmão, crescemos juntos - está num grupo de pagode com a turma da faculdade a gente pode dar umas batucadas. Vai também aquele tio gente boa que detonava quando era mais moço - vamos fazer uma homenagem a ele. A prima também vai levar as amigas dela que fazem stand-up - um sarro - e vai ser a maior zueira. ha ha ha

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Imagine essa festa cada vez mais comum na rotina dos brasileiros sendo transmitida pela TV. Ela foi. Ontem à noite, durante o Prêmio Multishow 2013. E muitos telespectadores (alguém ainda fala isso?) - se sentiram como aquele amigo do amigo que vai à festa sem conhecer ninguém e acaba ficando até o fim apesar de estar meio deslocado.

convescote anual que já há algum tempo pretende se firmar como um indicador relevante para a música brasileira foi um dos piores programas de TV já exibidos na história. Se na imaginária turma de amigos a diversão é garantida pelo laços fraternais e familiares turbinados por doses cavalares de álcool, numa terça à noite no sofá não teve Naldo e Anitta - as melhores apresentações - que salvasse a noite.

Desde que a MTV subverteu o protocolo de coisas como o Troféu Imprensa do Silvio Santos e instituiu no Brasil o modelo de cerimônias com apresentadores engraçadinhos muitos tentam copiar o formato. A própria MTV nem sempre conseguiu acertar, mas sempre compensava com uma dinâmica e surpresas que funcionavam.

Com o tempo, tomou mão da coisa e ninguém faz festa de premiação como a MTV. Aqui ou lá fora. Não tem Grammy, Oscar, Globo de Ouro que seja melhor que os VMA - Vídeo Music Awards. O que vai ser daqui para frente do VMB - a sua versão brasileira, com a emissora saindo do canal aberto e indo para o cabo em breve ninguém sabe.

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Na opção pelo humor como base para segurar aquilo que nunca deixará de ser um cerimonial de premiação, o Multishow escalou para a pré-festa as comediantes Samantha Schmutz (Zorra Total), Mia Melo (Ex-Casseta e Legendários) e Marcus Majella (Porta dos Fundos) para se juntar a Dani “hoje é dia de rock, bebê” Monteiro.

Samantha foi a mais desenvolta ao fazer graça, mas ao vivo, de improviso, é difícil. Mia Melo abriu o bocão com Zezé Di Camargo para ver quem tinha mais alcance vocal entoando É o Amor, mas ainda está longe de arrancar risos como fazia antes com sua personagem Teena. Majella, um dos gordinhos do Porta dos Fundos, era praticamente uma celebridade. Marcelo D2 chegou a elogiá-lo por causa do sucesso do grupo humorístico na internet.

Se nem comediantes mais tarimbados conseguiam garantir o humor nos bastidores, não seria Paulo Gustavo que ia dar conta do recado fazendo par com Ivete Sangalo pelas duas horas seguintes. O início não poderia ser mais batido. “Onde está o meu parceiro?” pergunta Ivete, com entonação de mistério, sozinha no palco escuro. Um movimento no alto e, surpresa! Paulo desce pendurado por uma corda, tagarelando, como que maldizendo quem teve a ideia de fazer aquilo enquanto tentava se desvencilhar para se juntar à amiga.

Acostumada a levar uma multidão por horas atrás do trio elétrico, Ivete talvez tirasse de letra e desse conta do recado sozinha. Mas Para piorar, além de Paulo Gustavo, volta e meia entrava no palco a dupla de comediantes Samantha Schmutz e Cacau Protásio (Zezé, de Avenida Brasil) para ajudá-los a apresentar algum número. Samantha é talentosa. Cacau, apenas espalhafatosa. Não deu certo.

O roteiro do show também não ajudava. Por ser véspera de Copa do Mundo e Olimpíada, a cenografia era relacionada a futebol e esporte. O número musical de abertura: Skank cantando Uma Partida de Futebol. Quantas vezes você já viu isso desde a Copa de 1998? Guilherme Arantes recebeu o prêmio de melhor disco do ano e falou que quer cantar Planeta Água na abertura da Copa.

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Os prêmios não eram troféus, mas medalhas, como as entregues aos esportistas. A cenografia, horrível, baseada em telões às vezes mostravam pessoas fazendo ola ou comemorando, como numa torcida. E os figurinos? Tem gente reclamando que a moda brasileira não precisa de incentivo fiscal do Ministério da Cultura. Mas pelo que se viu no prêmio Multishow de ontem, além de médicos cubanos, o país precisa urgentemente importar um batalhão de figurinistas.

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As várias duplas de artistas formadas para as apresentações eram burocráticas e saudosistas, essa última uma praga que está causando danos que demorarão anos para ter seus efeitos dissipados da música brasileira.

Emicida cantou seus raps com Caetano Veloso. D2 e os mulekes do Cone Crew tentaram pegar carona na onda de protestos, mas soou mais artificial que algumas das manifestações que de vez em quando voltam a pipocar por aí. O rap nacional ainda acha que apenas engajamento basta.

Quem assistiu ao prêmio da MTV no domingo retrasado e viu esse Multishow ontem pode constatar como estamos atrasados em produção de shows e programas de TV ao vivo. Questões musicais à parte, é de ocupação de palco, de postura cênica, de atitude de artista que estamos falando. No Multishow teve premiado indo receber o prêmio de camisa polo e calça jeans.

E, musicalmente, dois minutos de Miley Cyrus valem mais que as duas horas do que se viu ontem no Multishow. E não é pela polêmica do twerking, a ousada dança que a ex-garotinha Hannah Montana fez com Robin Thicke. Se quiser tirar a prova, ouça a apresentação abaixo sem ver o vídeo.

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P.S.: A apresentadora Ivete Sangalo ganhou como melhor cantora e disse não se sentir constrangida por isso, pois ali estava entre amigos.

 Foto: Estadão