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Memória, gente e lugares

Um capitão de araque

Demagogia de David Luiz iludiu torcida carente de ídolos de verdade

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Por Edmundo Leite
Atualização:

Não por seu desempenho nos gramados, mas por outros atributos extra-campo, David Luizera o jogador mais querido da torcida brasileira depois de Neymar nesta Copa do Mundo. “Gente boa”, “fofo”, “humilde”, “seu lindo”, “simpático”, “o jogador mais legal da Copa”, “carismático” e “o cara” eram alguns dos termos que acompanhavam as menções ao zagueiro nas redes sociais e noticiários desde que o grupo reunido por Scolari se juntou. Com seus “cachinhos de anjo” fazia no imaginário da torcida o papel do amigão do churras, do colega de trabalho divertido, do primo malucão, do namorado fanfarrão, mas ao mesmo tempo sensível e carinhoso, do genro dos sonhos de muita gente.

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Com a amarelada do capitão Thiago Silva no jogo contra o Chile e a sua boa atuação na partida contra a Colômbia, parecia natural que David Luiz assumisse oficialmente liderança do time com a suspensão do colega no jogo contra a Alemanha. Não duvido que o zagueiro até já sonhava em ser o cara que ia erguer a taça se o Brasil fosse campeão. Acredito que o próprio Thiago Silva cederia de bom grado a braçadeira de capitão se David Luiz tivesse uma atuação digna de um capitão na semifinal no Mineirão. E, como todos agora sabemos, não teve.

Passadas 24 horas da surra inesquecível no Mineirão, é preciso parar de tratar os perdedores como um rebanho e começar dar nome aos bois. David Luiz, por tudo o que vinha representando, mais que uma responsabilidade igual a dos colegas, tinha uma missão individual. “O cara” tinha a obrigação de mostrar que era mesmo um líder e não um mero tirador de selfies para o Instagram. Teve três oportunidades para isso, já que 3 a 0 é um resultado que a história mostra ser reversível, mas deixou passar todas, asssim como deixou passar a bola e os adversários alemães.

Que após o primeiro gol ainda não pudesse compreender isso e até aceitável. Foi bem no começo e tinha ainda muito tempo pela frente. Mas neste momento faltou aquilo que Didi, que nem capitão era em 1958, fez quando o Brasil tomou o primeiro gol na final contra a Suécia logo no começo do jogo. Como todo mundo sabe, Didi foi pegar a bola no fundo da rede, colocou debaixo do braço, caminhou lentamente até o meio do campo e acalmou os companheiros dizendo algo como “calma, somos melhores que eles e vamos virar esse jogo”.

Ainda mais por ter errado feio no lance, quando Müller passou livremente debaixo dos caracóis de seus cabelos, David Luiz tinha naquele momento uma obrigação adicional: limpar sua imagem de zagueiro mais caro do mundo. A falha e a apatia nos dois gols seguintes poderiam ter despertado, ainda que tardiamente, a honra e ímpeto de um capitão, mas nada aconteceu. Nada se viu do que se espera de um capitão.

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Mesmo que acreditasse na superioridade alemã e na impossibilidade de virada, David Luiz tinha a obrigação de tentar tirar algo de seus companheiros, despertá-los, desobedecer Scolari e assumir o comando do time, como fazem os capitães que estão no campo de batalha e percebem que as ordem dos generais não fazem mais sentido com o pelotão sendo alvejado sem dó pelos inimigos.

Mas, em vez da patente de capitão, David Luiz fez valer o apelido de “prefeito”, como seus colegas de time o chamavam por ficar horas tirando fotos e dando autógrafos para a torcida. Pelo jeito, já não o viam como um líder, mas como um político mais preocupado em promover a imagem pessoal do que alguém genuinamente preocupado com o “seu povo”, como ousou dizer, no melhor estilo populista, depois da tragédia do Mineirão.

 Foto: Rafael Ribeiro/CBF by instagram
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