Ao fazer uma entrevista com candidato a um cargo político, devo mostrar para ele minha inclinação a votar no seu concorrente? Ou será que, se ele for acusado de corrupção, eu devo ser mais agressivo nas perguntas?
Recentemente, nós fomos a Santa Cruz do Sul (RS) conhecer o processo fabricação do cigarro. Junto ao itinerário montado, que incluía visitas desde as plantações de tabaco até a fabricação do cigarro, tivemos palestras com executivos da indústria e produtores de fumo. Muitos de nós já tinham uma opinião sobre o assunto e, boa ou ruim, influenciou as perguntas.
Se um repórter considera a empresa de tabaco como uma produtora indireta de câncer de pulmão, terá perguntas com um tom agressivo. Se o repórter a legitima pela quantidade de empregos que gera (aproximadamente 2,5 milhões), buscará defendê-la.
No entanto, onde ficam aqueles pequenos detalhes que vão além desses dois pontos de vista, como a agricultura familiar, a invasão dos cigarros paraguaios (sem controle de qualidade), ou os 2% de todas as exportações brasileiras representadas por esta indústria?
Pois bem. É neste ponto que a definição do e-mail encontra um obstáculo. Toda opinião pré-concebida limita a visão e, consequentemente, a curiosidade. Por isso que é fundamental nos esvaziarmos de nossas opiniões, ao menos na hora de fazer uma cobertura.
"Vocês não podem chegar numa entrevista com uma tese formada e tentar achar argumentos para comprová-la", adverte Chico Ornellas, coordenador do curso.
"Mirar, escuchar, pensar y contar", sugere Paco Sánchez. Inverter o processo, colocando o "pensar" antes do "mirar y escuchar" pode ser como colocar a carroça na frente dos bois ao escrever uma matéria.