A pergunta é inerente à boa apuração. Paco Sánchez, colunista do jornal espanhol La Voz de Galicia, ressaltou nas suas aulas que o mais importante para escrever bem não é dominar um conjunto de técnicas estilísticas, mas entender como funciona a natureza humana. Só assim podemos realmente olhar, escutar, pensar e contar histórias.
A boa notícia para nós, jovens recém-formados, é que para alcançar tamanho conhecimento não é necessário chegar à redação com Ph.D. em Psicologia. Mas é preciso ler muito. E não qualquer coisa.
Os clássicos, como a obra de Shakespeare, retratam a essência do homem e servem de lição. Tratam de questões tão intrínsecas à sociedade que praticamente não mudam, independentemente da época dos personagens. Neles, encontra-se a resposta para a pergunta inicial.
Como no jornalismo a grande sacada está em entender o outro como ele entende a si mesmo, analisar o que os grandes escritores observam e como traçam os perfis e as histórias ajuda muito na tarefa de olhar e escutar.
Conhecer a fundo a cultura permite ver as pessoas por trás das histórias e as histórias por trás das pessoas. Ao conseguir identificar os diagnósticos da sociedade, fica mais difícil cometer o erro de cair no óbvio ou estabelecer raciocínios rasos.
Assim, é preciso saber que tudo parte da natureza humana. Se pensarmos bem, a diferença entre a boa e a má apuração passa por um ponto fundamental: a humildade do jornalista para com a pauta. Humildade para aprender, perguntar e, principalmente, ouvir o máximo possível.