O desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica pode não ser novo, mas continua atual. A situação de dois dos mais simbólicos ecossistemas brasileiros foi o tema do segundo dia da Semana Estado de Jornalismo Ambiental, nesta quarta-feira, dia 10. O evento, organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo em parceria com a Tetra Pak, conta com a participação de especialistas, jornalistas responsáveis pela cobertura de meio ambiente e mais de cem estudantes de todo o Brasil.
Tecnólogo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luis Maurano abriu o ciclo de palestras detalhando parte das medidas mais recentes que o governo federal tem adotado para combater o desmatamento da Amazônia. Os desafios de coibir a exploração excessiva da fauna e da flora da região são proporcionais ao tamanho da maior floresta tropical do mundo. De acordo com o último balanço do próprio Inpe, entre julho de 2013 e julho e 2014 foram desmatados na região 4.848 km², área equivalente a 680 mil campos de futebol.
"Há alguns anos era permitido retirar 50% da flora de uma propriedade na Amazônia. Hoje você só pode desmatar 20%. Essa mudança nasceu a partir das pesquisas do Inpe", diz.
No entanto, o caminho até que seja encontrada uma solução é longo."Nós não temos poder fiscalizatório ou para dizer se o desmatamento é legal. Apenas levamos os números às autoridades competentes. E com os dados em mão, nem sempre é simples saber quanto daquele desmatamento está dentro da lei", admite.
"Há alguns anos era permitido retirar 50% da flora de uma propriedade na Amazônia. Hoje você só pode desmatar 20% - Luis Maurano, tecnólogo do Inpe
Co-fundadora do site Amazônia Real, a jornalista Elaíze Farias mostrou para os estudantes algumas da dificuldades de cobrir de maneira independente os problemas ambientais e sociais da região. O portal funciona com a parceria da Ford Foundation e doações particulares.
"Fazer grandes reportagens lá é muito caro. As viagens são quase todas de barco. Fizemos uma matéria perto de Manaus e, mesmo assim, gastamos R$ 3 mil", afirma.
"Outro problema é que fala-se muito do fim da fauna e da flora e do desmatamento da Amazônia. Mas fala-se pouco das populações da região: aldeias indígenas, quilombolas, pequenos agricultores", diz. "A minha sócia está fazendo há um mês uma matéria sobre tráfico de pessoas. Eu passei outro mês escrevendo e apurando sobre a crise hídrica amazônica, que, por incrível que pareça, existe."
Mata Atlântica
O segundo bloco de palestras falou sobre um dos biomas mais devastados do país, a Mata Atlântica. Malu Ribeiro, jornalista e membro da SOS Mata Atlântica, reforçou a relação entre o desmatamento das florestas e a crise hídrica do estado de São Paulo: "Um hectare bem conservado é capaz de produzir 10 mil litros de água independente da quantidade de chuva, e o cenário de intenso desmatamento trouxe como consequência a crise atual", disse.
Uma enquete organizada pela ONG, com 17.111 usuários do site ReclameAqui, constatou que 44% pessoas apontavam o desmatamento da Mata Atlântica como causa da crise hídrica. Segundo a jornalista, a Região Metropolitana de São Paulo dá sinais de alerta há anos e a crise já era uma "tragédia anunciada". Na bacia hidrográfica que forma a Cantareira, resta apenas 21,5% da vegetação nativa. E as áreas remanescentes encontram-se isoladas umas das outras, o que, segundo Malu, culmina em perda de diversidade e empobrecimento genético da floresta.
"A floresta atlântica reflete em água. Se não tem uma, não tem outra" - Malu Ribeiro, jornalista e membro da SOS Mata Atlântica
A jornalista também criticou fortemente o Código Florestal Brasileiro, que, em sua avaliação, deixa desprotegidas as matas ciliares, a vegetação que margeia os rios. "A floresta atlântica reflete em água. Se não tem uma, não tem outra", pontuou.