Nunca entendi por que coco não usa chapéu. E digo mais: nunca entendi por que coco não usa chapéu-coco. Ficaria lindo, no primeiro "co" do coco, um chapéu-coco. Um sinal gráfico de aba estreita, copa pequena e arredondada. Algo discreto, mas imponente. Algo que suscitasse o respeito de todos pelo coco, fosse ele gelado ou Chanel.
Quando menino, fazia questão de adornar meus cocos com um chapéu triangular, horroroso, de palha entrelaçada. O tal do circunflexo. E o coco jamais fora tão ridículo. E era tão mais repugnante quando, na dúvida, metia-lhe o chapéu no segundo "co". Meus cocos careciam de elegância. Faltava-lhes o chapéu-coco.
Por mais que me inundassem o cérebro com regras gramaticais de acentuação, não aceitava a ideia (e até hoje não a aceito) de que cocô tem um chapéu e coco, não. Coco é muito mais forte, sonoro. É, sim, digno de um chapéu! Muito mais do que o cocô. E coco merece um adereço de qualidade. Nada de circunflexos de palha.
O chapéu-coco, portanto, surgiria para suprir essa falta de estilo de algumas palavras da língua portuguesa. Obviamente, receberia um nome técnico, para que as gramáticas não ficassem por demais obscenas e esculhambadas. Lânguido, acento lânguido. Este seria um bom nome para o chapéu, pois que é, ao mesmo tempo, brando e voluptuoso.
O acento lânguido poderia ser usado, por exemplo, em melancia. Ah, como adorava, quando criança, lambuzar meus labirintos com a melódica "melância". Era errado, mas nunca feio. O que a estragava era o circunflexo de palha. O chapéu-coco, todavia, daria um charme e uma suculência ímpares à palavra-fruta, que degusto até hoje em meus ouvidos.
* Texto dedicado a todos os professores do Brasil, que lutam para que não confundamos coco com cocô.
Luis Carrasco, de 22 anos, é formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero