Venci. Ganhei meu sorvete. Diante de mim, ele era um adversário. Um amado inimigo enfrentando minha colher em riste. Preparei meu ataque e, lambendo os beiços, desferi punhaladas e punhaladas. Pedaço a pedaço, joguei-o goela adentro, ferozmente. Conforme derretia em minha garganta, o doce acariciava meu coração. Lambuzava-me, sujava-me. Gracioso.
Conforme destruía aquele gigante gelado, uma angústia se abatia sobre minhas costas. Caso fosse uma balança, meus ponteiros marcariam toneladas e toneladas, multiplicando-se cada vez mais rápido, conforme o fundo da taça se tornava mais visível.
Regido por uma orquestra que só eu ouvia, saboreei-o como se, em um estalar de dedos, alguém fosse capaz de decretar a "desinvenção" do sorvete. Somei banquinho, sobremesa, camiseta melecada, avô generoso e gula, chegando a uma enorme festa. Que acabou.
Isso nunca aconteceu. Mas foi assim que digeri esse curso: com a gana merecida de um sorvete imaginário.
E daqui a 40 anos?
Propus a alguns focas uma viagem ao futuro, assim como fiz a esse passado inexistente. Neste vídeo, queridos colegas falam ao Em Foca sobre as delícias pretendidas aos seus 60 e tantos anos. Até breve!