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Por um Fla-Flu bem jogado

A armadilha do falso debate

Não faz sentido valorizar opiniões contaminadas por paixões ideológicas

Por Mario Vitor Rodrigues
Atualização:

 

 

Ao invés de acelerar a máquina pensando em favorecer correligionários nas urnas, hábito comum por estas paragens, Fernando Henrique Cardoso entregou o País com um superávit primário de 3% do PIB. Insuficiente para evitar que o seu legado ganhasse a pecha de "herança maldita".

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Ninguém em paz com os fatos questiona os méritos do governo Lula quanto à universalização dos programas sociais, mas não deveria gerar debate a constatação de que eles tiveram início na gestão anterior.

E tampouco é honesto reivindicar para si o monopólio da atenção aos menos favorecidos -- argumentando que para além de seu espectro só exista uma elite repulsiva a toda sorte de minorias.

Ao longo das últimas décadas, a esquerda se empenhou em construir uma narrativa dominante, moldada para obstruir o diálogo e assim viabilizar o seu projeto de poder. Há fartura de exemplos. Contudo, o reflexo de tal estratégia no campo político talvez tenha sido ainda mais nefasto: sempre a reboque do PT, o combate e por vezes até mesmo a negação de medidas fundamentais para o Brasil. Com destaque para a Lei de Responsabilidade Fiscal e o próprio Plano Real.

E então surgiu Dilma Rousseff.

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Eis a grande ironia: talvez Dilma tenha sido a maior praga a acometer o Brasil desde a reabertura política, mas, ao mesmo tempo, não deixou de ser uma benção.

Praga, como se sabe, por congregar inaptidão, voluntarismo e prepotência em cada gesto, a cada decisão tomada. E benção, pois, caso contrário, tão cedo a bandalheira fiscal, política e ética aperfeiçoada com afinco pelo Partido dos Trabalhadores não chegaria ao fim.

Constatado o inevitável enfraquecimento da retórica campeã de votos durante os últimos ciclos eleitorais, a de que vivemos em um país dividido por natureza e cujo lado mais fraco deve submissão a uma casta talhada para protegê-lo, porém, surge agora uma outra: a de que o tom moderado, por si só, basta para legitimar o debate. Ou, trocando em miúdos, de que a forma seja suficiente sobrepujar o conteúdo.

Não há como, mas é sintomático que muitos entendam assim.

No afã de estabelecer um diálogo plural -- sem dúvida, premissa básica se quisermos erradicar esse nós contra eles maquiavelicamente costurado, no qual figuras como Gleisi Hoffmann, Guilherme Boulos e Jair Bolsonaro se refestelam --, e levando em conta o tom religioso que predomina no campo majoritário, o da esquerda, ganhou importância preponderante a estética do debate. Desistimos de focar no conteúdo para celebrar a capacidade dos interlocutores em tergiversar e mesmo faltar com a verdade, desde que em tom ameno.

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É uma pena, pois o critério a ser levado em conta, acima de todos os demais e especialmente se assuntos caros à sociedade formam a pauta, deveria ser o da honestidade intelectual.

Não faz sentido valorizar opiniões contaminadas por paixões ideológicas, de pessoas dispostas a negar evidências ou até mesmo a camuflar argumentos. Não é deste tipo de conversa que o País precisa. Não será toureando bestas bravias, ainda que nos provoque algum divertimento essa modalidade de xadrez, que alcançaremos maturidade política e social.

Na teoria, promover o debate continua sendo importante.

Na prática, terá pouca utilidade se a franqueza dos argumentos não circular em vias de mão dupla.