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Quem gosta de privacidade é mulher feia (2)

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Por Redação
Atualização:

Esqueçam o que aqui escrevi na semana passada sobre o desenvolvimento da indústria de celebridades no Brasil. A leitura do noticiário dos últimos dias ensinou que, perto de Naomi Campbell, Adriane Galisteu é pinto. Em matéria de evasão de privacidade, a top model britânica está, pelos cálculos do Google, nada menos que 9 milhões de citações à frente de nosso ícone louro da vontade de aparecer. Em comum, a dupla passa a sensação de que nenhuma notícia é suficientemente má para seus protagonistas, mas a capacidade de Adriane curtir o ócio como se fosse o ápice de sua carreira ganha sotaque provinciano perto do glamour com que Naomi veste seu drama pessoal na imprensa internacional.

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Consta do diário de bordo na nave estelar Campbell do mês de junho que, entre os dias 20 e 27, de uma sexta-feira a outra, Naomi viveu uma jornada alucinante. Seu destino seria a São Paulo Fashion Week no sábado retrasado, caso não fosse presa na véspera por um tribunal de Londres que a julgaria por agressão a dois policiais no aeroporto de Heathrow. Condenada a 200 horas de serviços comunitários, a top model sentiu-se livre para trocar São Paulo por Milão, o biquíni da grife Rosa Chá por um roupão de seda da Dolce & Gabana, uma notícia por duas.

Parecia uma incrível volta por cima para quem, naquela semana, pouco antes do julgamento, foi flagrada em foto arrumando os cabelos sobre a legenda "Naomi Campbell está mesmo ficando calva". Mas que outra careca brilharia tanto quanto a de Anthony Hopkins na terça-feira (24), em Leipzig, durante o "Oscar alemão" promovido pelo jornal Bild? A maior e mais reluzente testa negra do fashionbiz internacional já voava de novo nas alturas quando, na quarta-feira (25), Nelson Mandela anunciou em Londres que o nome dela havia sido cortado da lista de convidados para o show beneficente comemorativo dos 90 anos do líder sul-africano.

Barrada no baile - a imprensa deduziu que por conta da irritação de Mandela com o comportamento agressivo de Naomi no aeroporto de Londres -, a moça parecia de novo arruinada na avaliação de quem ainda interpreta más notícias ao pé da letra. Muita gente achou que ela passaria o resto da semana deprimida com o puxão de orelha de seu "avô honorário". Era assim que Naomi chamava o velho parceiro em campanhas contra a Aids na África. Como uma celebridade deve reagir ao veto de uma unanimidade como Nelson Mandela? Como superar o trauma de virar ícone de mau comportamento numa festa que admite até a Amy Winehouse?

Muito simples! Na quinta-feira (26), véspera do "baile" no Hyde Park, Naomi vestiu seu melhor traje a rigor para o jantar de gala beneficente em torno de Mandela, para o qual ninguém foi convidado - só compareceu quem pagou caro para ajudar as obras sociais do aniversariante. Havia muita gente famosa por lá, mas a Internet destacou logo as presenças de Naomi Campbell e Will Smith, dando a falsa idéia de que eles foram juntos ao evento. É a glória!

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O mais espetacular de tudo é o seguinte: do flagrante da calvície ao bolo na SPFW, do julgamento por agressão à elegância da aparição em homenagem ao detrator Mandela, da semana de moda em Milão ao Oscar Alemão, não há registro na imprensa mundial de uma só frase pronunciada pela top model. Nem um "ai" nos horas mais difíceis ou um "ual" nos momentos divertidos. Nenhuma justificativa, reconsideração, manifestação de júbilo ou arrependimento. Naomi Campbell é uma personagem em busca de uma história. Quem quiser que invente a sua.

(Texto publicado originalmente no caderno Aliás, do 'Estado')

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