Muito difícil tentar compreender a infeliz manifestação da desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, da 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sobre a professora Debora Seabra de Moura, que tem síndrome de Down e leciona há mais de 10 anos em Natal/RN.
"...o que será que essa professora ensina a quem?", pergunta a magistrada.
Tentar conscientizar Marília de Castro Neves Vieira demandaria um gasto tão gigantesco de energia que é realmente inviável. A juíza está soterrada em toneladas de preconceito, sepultada em suas verdades absolutas, não pode ser resgatada.
Dessa forma, a única reação possível seria a indiferença diante de tamanho desconhecimento.
Vamos seguir com o trabalho e produzir informações de qualidade para promover o debate abrangente e profundo que aproxime quem realmente pode ser conduzido à evolução e transformado.
Reagir com ofensas semelhantes seria tão inútil quanto buscar na desembargadora uma abertura ao aprendizado sobre a importância da diversidade para a evolução da sociedade
Ainda assim, prevalece a função de dar voz às pessoas com deficiência e responder de maneira concreta ao que expressa a ministra.
Nos cursos de Direito, a lição seria sobre a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146/2015).
Nada disso é necessário, porque a própria professora Debora Seabra de Moura respondeu com equilíbrio e educação. E encerrou sua participação na história.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1552955844801727
"Recado para a juiza Marília.
Não quero bater boca com você! Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças em uma escola de Natal (RN). Trabalho à tarde todos os dias com minha equipe, que tem uma professora titular e outra auxiliar. Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais.
Eu estudo o planejamento, eu participo das reuniões, eu dou opiniões, eu conto histórias para as crianças, eu ajudo nas atividades, eu vou para o parque com elas, acompanho as crianças nas aulas de inglês, música e educação física e mais um monte de coisas.
O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito, que é crime", escreveu a professora Debora.
https://www.facebook.com/maragabrilli/photos/a.224374950945753.49893.215275598522355/1657943964255504/
Em sua publicação, a magistrada finaliza com uma ironia. "Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?".
Por favor, prezada juíza, não se mate, porque a senhora ainda tem muito para aprender neste mundo.
Outras publicações da mesma togada merecem respostas, inclusive na Justiça, principalmente aquelas contra Marielle Franco, assassinada no último dia 14 de março. A vereadora do PSOL não tem mais a possibilidade de reagir neste mundo e cabe à sociedade mostrar para Marília de Castro Neves Vieira seu verdadeiro lugar nesse latifúndio.
SAIBA MAIS - A síndrome de Down não é uma doença. Trata-se de uma condição causada pela trissomia do cromossomo 21. É a ocorrência genética mais comum no mundo, registrada uma vez para cada 700 nascimentos. Não há nenhuma relação com etnia, país, religião ou condição econômica.
CROMOSSOMOS - Um cromossomo (ou cromossoma) é uma longa sequência de DNA com genes que determinam nossas características.
Quando não há trissomia, o ser humano têm 23 pares de cromossomos (total de 46) em cada uma das células de seu organismo. Metade estava no espermatozoide do pai e a outra metade foi carregada no óvulo da mãe. Todos reunidos no momento da fecundação, na formação da primeira célula (ovo ou zigoto), que se dividiu para gerar o novo organismo.
O último par, com os cromossomos 45 e 46, define especificamente o sexo (XX é feminino e XY é masculino). Os outros 44 cromossomos, chamados de REGULARES (ou autossomos homólogos), estão em 22 pares e definem todas as nossas outras características.
TRISSOMIA - Quando um óvulo ou espermatozoide com 24 cromossomos é unido a outro óvulo ou espermatozoide com 23, ocorre a trissomia, que aparece especificamente no cromossomo 21. Essa diferença causa a condição chamada de síndrome de Down.
HISTÓRIA - O nome é uma referência ao médico inglês John Langdon Haydon Down, o primeiro a relatar, entre os anos entre 1864 e 1866, características da ocorrência genética. Não há registros anteriores ao século 19.
John Down trabalhava na cidade de Surrey (Inglaterra), em uma clínica para crianças com atraso neuropsicomotor, e listou características físicas similares em filhos de mães acima de 35 anos, descrevendo as crianças como 'amáveis e amistosas'.
Influenciado pela Teoria da Evolução de Charles Darwin, explicou a síndrome e estabeleceu uma teoria étnica, com sugestão para um 'estado regressivo da evolução'. Inicialmente, as causas foram atribuídas a tuberculose, sífilis e hipotireoidismo, classificando as crianças como 'inacabadas'.
No período anterior à identificação da alteração cromossômica, muitos pacientes foram rejeitados e aprisionados em hospitais, época marcada por grande intolerância religiosa e cultural.
Somente em 1959, os cientistas Jerome LeJeune e Patricia Jacobs determinaram a trissomia do cromossomo 21 como causa da condição, a primeira alteração cromossômica verificada na espécie humana, já chamada de 'mongolismo', renomeada para Síndrome de Down aproximadamente uma década depois.
Mande mensagem, crítica ou sugestão para blogVencerLimites@gmail.com
Acompanhe o #blogVencerLimites nas redes sociais