1 em 6 ataques do mundo contra ativistas de direitos humanos acontece no Brasil

Em 2017, o Brasil registrou 49 casos de ataques – com 43 mortes, quase todos no interior do País em disputas ambientais, por terras indígenas ou mineração

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Por Jamil Chade
Atualização:
Violência. México é o 2º país com maior número de mortes Foto: HENRY ROMERO/REUTERS - 30/10/2014

GENEBRA - O Brasil é o país onde mais se mata ativistas de direitos humanos, alerta a organização inglesa Business & Human Rights Resource Center, uma das principais referências internacionais na coleta de dados sobre esse tipo de crime. No ano passado, 290 pessoas foram vítimas de algum tipo de ataque no mundo – um em cada seis foram contra lideranças brasileiras.

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Em 2017, o Brasil registrou 49 casos de ataques – com 43 mortes, quase todos no interior do País em disputas ambientais, por terras indígenas ou mineração. Outras três pessoas foram alvo de intimidação e outras três, de espancamento.

O número supera o de outros países latino-americanos, como México (44), Peru (39) e Colômbia (38). Estão também abaixo do Brasil países como Filipinas, Guatemala ou Índia.

O Brasil também liderou em número de ataques os registros entre 2015 e o ano passado. Foram 111 vítimas em apenas três anos, ante 96 na Colômbia e 90 no México. No total, em três anos, a entidade registrou 684 ataques contra defensores de direitos humanos pelo mundo.

“Isso é para ser o ponto de partida para novas pesquisas”, diz Ana Zbona, uma das responsáveis pelo banco de dados da organização. Segundo ela, as estatísticas “apenas” incluem ataques contra ativistas que têm seu trabalho focado em setores econômicos, como grandes proprietários de terras, empresas ou atividades comerciais.

A constatação da entidade já chegou aos bastidores das reuniões diplomáticas na Organização das Nações Unidas (ONU). Agnes Callamard, relatora da entidade para Execuções Sumárias, não esconde sua preocupação com a situação brasileira.

Ela revelou que, em um ano, enviou cinco cartas sigilosas ao governo brasileiro exigindo respostas sobre assassinatos no País. “O trágico assassinato de Marielle Franco é um desenvolvimento extremamente preocupante para o Brasil”, escreveu Agnes ao Estado.

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O governo ignorou recentes mensagens da ONU sobre ameaças a ativistas – nenhuma delas foi respondida, como o Estado mostrou esta semana. Procurado para comentar o assunto, o Itamaraty não respondeu.

Responsabilidade A proliferação de mortes no campo e na cidade levou a ONU a fazer apelos para que o governo se comprometa a não deixar os crimes impunes. Em maio, em sabatina sobre a situação do País, as execuções voltaram a ser cobradas e, mais uma vez, os apelos ficaram sem resposta.

Na tentativa de reduzir os danos à imagem do País no exterior, o Ministério das Relações Exteriores enviou anteontem, a todas as suas embaixadas, instruções para que os diplomatas entrassem em contato com autoridades locais e formadores de opinião para “expor da maneira mais ampla possível as medidas tomadas pelo governo” para esclarecer o assassinato. Nos bastidores, ONGs brasileiras e estrangeiras se mobilizam para expor autoridades brasileiras na ONU com a repercussão sobre o caso.

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