PUBLICIDADE

''A reciclagem é a mina de ouro do momento'', diz catadora de lixo

Membros de cooperativa recebem até R$ 800 por mês, mas a meta é que a renda mensal seja maior que R$ 1 mil

Por Marta Salomon
Atualização:

OSASCOMarinei de Alves Santos teve de recorrer ao Ministério Público para registrar o filho caçula, de 10 meses, com o nome de Obama Mandela, homenagem dupla ao presidente dos EUA e ao líder sul-africano. Tarefa bem mais difícil para ela foi aprender a lidar com os negócios de uma das cooperativas de catadores de lixo reciclável de Osasco, que preside atualmente."No começo, eu não sabia ligar o botão do computador nem assinar um cheque", conta a presidente da entidade. A meta de Marinei é garantir uma renda de pouco mais de R$ 1 mil líquidos por mês a cada um dos 34 associados da Cooperativa de Catadores Cooperando com a Natureza (Coopernatuz), que recebem almoço no local do trabalho. "A reciclagem é a mina de ouro do momento", entusiasma-se Marinei, de 30 anos. A retirada média dos cooperados está em torno de R$ 700 a R$ 800 por mês. O dinheiro é a única renda de muitas das famílias dali. Quatro dos cooperados recebem benefícios do programa Bolsa Família. Marinei não está entre eles. "Vou deixar o dinheiro do Bolsa Família para os outros que precisam mais."Beneficiários do Bolsa Família são maioria entre os desempregados que participam da Oficina Escola, projeto que atende, em média, 170pessoas a cada ano, sobretudo mulheres. Nesse período, elas recebem treinamento, trabalham e ganham por isso. Uma bolsa complementar ao programa de transferência de renda do governo federal, a Oficina Escola é responsável por produzir (até 2010, integralmente) os uniformes dos alunos da rede pública. "Quando sair daqui, quero ficar dois anos no mercado de trabalho e me preparar para fazer faculdade", diz Angélica Rodrigues Aquino, de 39 anos, mãe de dois filhos já crescidos, uma das atuais aprendizes. Custo-benefício. Do ponto de vista econômico, a Prefeitura de Osasco diz que a confecção dos uniformes na oficina compensa os custos. Cerca de 80% das mulheres que entram na Oficina Escola nunca haviam visto uma máquina de costura industrial. Foi o que aconteceu com Maria Aparecida Silva Vera, uma das que concluíram o curso. Ela apareceu ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2008, quando devolveu o cartão do Bolsa Família. Anos depois das fotos com Lula, Maria Aparecida diz que não se arrependeu de ter aberto mão do benefício. Empregada com carteira assinada desde que deixou a oficina, já foi promovida a auxiliar de modelista, na mesma empresa. "Eu não precisava mais do cartão, mas muitos recebem o Bolsa Família e acham que é suficiente: esses precisam correr atrás", aconselha. A história dos empreendimentos solidários tem episódios de grandes dificuldades, principalmente no começo. Nas proximidades da Oficina Escola, funciona a primeira cooperativa de costureiras que passou pela incubadora de projetos da prefeitura. "No início, muitas mulheres pensaram em desistir, por causa da retirada pequena e da oscilação dos valores", conta Marise Alves Prazeres Rodrigues, presidente da cooperativa. Atualmente, para dar conta das encomendas, a cooperativa até contrata mão de obra. As retiradas mensais estão entre R$ 800 e R$ 1.300.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.