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Abadía declara inocência e será ouvido no dia 10 de setembro

Traficante colombiano extraditado do Brasil está preso em uma detenção de segurança máxima em Nova York

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, de 45 anos, se declarou inocente em sua primeira audiência frente à Justiça americana, na segunda-feira, 25. Segundo seu advogado, Paul Ronald Nalven, a sessão no tribunal regional de Nova York durou apenas 15 minutos - no dia 10 de setembro, Abadía será ouvido novamente, desta vez em uma corte federal em Manhattan, para responder às acusações de assassinato, extorsão, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Veja também: MS comemora e, agora, quer saída de Beira-Mar Outros criminosos que se refugiaram no Brasil  Imagens da operação que prendeu Abadía Todas as notícias sobre a prisão de Abadía    "Foi apenas o início de seu julgamento regional, então ele ouviu as acusações e se declarou inocente até como um procedimento padrão em casos como esse", afirma Paul Nalven. "Em setembro ele participa do início de outro julgamento, desta vez na esfera federal, mas não precisará ir a Washington." O colombiano ocupa atualmente uma cela de segurança máxima do Centro de Detenção Metropolitana do Brooklin, em Nova York. Ele foi levado para lá depois de ser extraditado do Brasil na madrugada da última sexta-feira, após um ano detido no presídio de Campo Grande. O Departamento de Estado norte-americano afirma que o cartel chefiado por Abadía contrabandeou mais de US$ 10 bilhões em cocaína para os Estados Unidos - durante apenas uma década de atuação, ele teria enviado 550 toneladas da droga. O traficante ainda é apontado como mandante da morte de 300 pessoas na Colômbia e 15 nos EUA. Segundo Nalven, um acordo feito para formalizar a extradição determina que a pena aplicada pela Justiça dos Estados Unidos não poderá ser maior do que a sentença decidida pela Justiça brasileira, que foi de 30 anos - maior punição prevista na lei brasileira. Abadía foi preso em São Paulo no dia 7 de agosto de 2007, quando ele estava sua casa de alto luxo em Aldeia da Serra, e chegou a oferecer R$ 35 milhões à Justiça brasileira para ser extradidato para os EUA. Com a extradição, o traficante pode negociar uma coloboração com a Justiça dos EUA e, assim, deixar de ser réu e se tornar testemunha de investigações contra o crime organizado. Em abril deste ano, foram realizados um leilão e um megabazar com objetos do traficante. Organizados no Jockey Club, em São Paulo, os eventos atrairam a curiosidade de milhares de pessoas. O bazar, previsto para durar seis dias, teve tanto sucesso que os produtos acabaram e o evento durou apenas dois dias. Acusações O traficante é acusado de lavar cerca de US$ 9 milhões arrecadados com o tráfico internacional de drogas. O traficante é acusado ainda por outros três crimes: formação de quadrilha, falsidade ideológica e corrupção ativa. O colombiano fugiu para o Brasil em julho de 2004. Na fuga, teria usado mais de 30 documentos falsos, feito plásticas e subornado agentes públicos Ramirez-Abadía também era procurado pela Agência Americana Antidrogas (DEA), que oferecia até US$ 5 milhões em troca de informações sobre o seu paradeiro. Nos anos 80, antes de começar a trabalhar no tráfico de drogas, Abadía era um jovem de classe média alta, universitário e adorava cavalos. Em pouco tempo, se tornaria em um possível sucessor dos barões do Cartel de Cali, junto com o amigo Juan Carlos Ortiz. Em 1996, os dois se entregam à Justiça colombiana. O Departamento de Justiça dos EUA pediu sua extradição nessa época, pelo presumível envolvimento com o Cartel do Vale do Norte. O país não foi atendido e Chupeta cumpriu quatro dos 24 anos a que foi condenado - o traficante foi beneficiado pela confissão dos crimes. Suspeita-se que o traficante mantinha controle sobre os negócios mesmo dentro da prisão. A poucos dias de ser solto, seu amigo Ortiz foi assassinado. A autoria do crime foi atribuída ao novo sócio de Chupeta, Wílber Varela. Abadia era um dos nove membros do Cartel do Vale do Norte processados pelos EUA. Ele é acusado de enviar anualmente centenas de toneladas de cocaína a Los Angeles e San Antonio, por rotas marítimas e aéreas que partiam da costa do México. O traficante também era responsável pela criação sua própria rede distribuidora de drogas em Nova York e se dedicava ao transporte e comércio de heroína. Até a sua prisão, suspeitava-se que o traficante se escondia no Chile, Uruguai e Argentina. Processos  No Brasil, Abadía responde apenas a processo por lavagem de dinheiro. A extradição do colombiano já havia sido aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 13 de março. Entretanto, o ministro da Justiça via com cautela a questão. "Estamos examinando com cautela e em parceria com o governo e a embaixada americanos a oportunidade de cumprir a aceitação de extradição", disse Tarso no início do mês. Isso porque a condenação de Abadía no Brasil seria pequena pois as acusações que pesam contra ele são menores se comparadas às acusações nos EUA. Ligação com Beira-Mar O colombiano estava preso no Presídio Federal de Campo Grande (MS) junto com o traficante Fernandinho Beira-Mar. No dia 4 de agosto, a Operação X da Polícia Federal prendeu oito pessoas acusadas de fazer parte do esquema montado pelos traficantes para ameaçar juízes. Os dois traficantes usaram os advogados e familiares de grupos criminosos diversos, cujos chefes estão no mesmo presídio, para ameaçar essas autoridades. O plano foi descoberto pela inteligência da PF. Uma delas é o advogado Vladimir Búlgaro, defensor de José Reinaldo Girotti, um dos maiores financiadores de grupos criminosos do País, entre os quais o Primeiro Comando da Capital (PCC), que também está preso em Campo Grande. Na ocasião, o juiz corregedor do Presídio Federal de Campo Grande, Odilon de Oliveira, lembrou que Beira-Mar sempre ordenou vários crimes, entre eles seqüestros e o narcotráfico, de dentro do presídio. "São as visitas que recebe, o meio de contato do Beira-Mar com as quadrilhas que comanda no Brasil e no Paraguai", afirmou. Oliveira disse ainda que a quadrilha desmantelada era formada por Beira-Mar e Abadía, "tão ou perigoso quanto Beira-Mar", e ainda os dois assaltantes do Banco Central de Fortaleza. Os quatro passarão a ser mantidos sob regime especial no presídio de Campo Grande. Beira-Mar já está cumprindo pena nessa condição especial.

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