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Aécio pede mudança de tom para apoiar Serra

Tucanato mineiro quer que presidenciável adote o figurino e o discurso de candidato da oposição

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Por Redação
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Embalado pela conquista de um lugar no segundo turno, o presidenciável tucano José Serra desembarcou ontem no segundo maior colégio eleitoral do Brasil para virar tributário do sucesso que o PSDB desfruta em Minas Gerais. Uma operação política recebida com uma contraproposta pelo tucanato mineiro: o compromisso de lançar o senador eleito Aécio Neves ao Planalto em 2014 e acabar com o fator previdenciário no cálculo das aposentadorias do INSS, instituído no governo FHC. O que era, portanto, para ser apenas uma visita de pêsames ao recém-eleito senador, que acabara de perder o pai e ex-deputado Aécio Cunha, teve outra serventia e abriu espaço aos tucanos para falar do segundo turno da disputa presidencial e apresentar a conta política de Minas Gerais para virar o jogo favorável à adversária petista Dilma Rousseff. Assim, além de preservar o projeto de poder de Minas, com Aécio Neves candidato à Presidência em 2014, o tucanato local quer que Serra mude a campanha e adote o figurino e o discurso de candidato da oposição. E mais: pedem ousadia na apresentação de propostas para mudar a vida do eleitor, a começar pelo fim do fator previdenciário. Foi neste clima que o deputado estadual Domingos Sávio (PSDB-MG), no embalo das urnas que na véspera o promoveram a deputado federal, tomou o braço de Serra pela mão e desceu as escadas da Assembleia Legislativa de Minas, onde ocorria o velório de Aécio Cunha, e cochichou sua proposta: "O senhor tem de ir para a televisão e anunciar o fim do fator previdenciário. Se o senhor acabar com isto, antes que o PT o faça, a gente ganha a eleição".Serra não disse nem que sim, nem que não. Ouviu com a atenção devida ao interlocutor que, sete meses atrás, arriscara uma campanha para que Aécio aceitasse ser seu vice na corrida sucessória, como forma de facilitar a vitória do PSDB sobre o PT de Lula e sua candidata. O fator previdenciário é um sistema de desestímulo à aposentadoria precoce, uma vez que o INSS paga uma pensão maior ao aposentado que adiar a decisão de se aposentar. Nos primeiros dez anos de vigência, o método gerou economia para os cofres públicos calculada em R$ 10 bilhões. Caso seja extinto, a despesa deverá voltar a crescer.Erro. Atento às abordagens, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), aconselhava Serra a não repetir o erro que ele cometera em 2006, quando demorou para reiniciar a campanha do segundo turno contra o presidente Lula e acabou derrotado. "Aqueles dez dias que eu fiquei sem programa de televisão, desmobilizaram a campanha. Quanto mais rápido começar o horário eleitoral, melhor. Como o Brasil é muito grande, é preciso um mutirão, incorporando todo mundo", sugeriu.O deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB) acredita que um acordo simples político para preservar o projeto Aécio 2014 pode virar uma "onda maluca" a favor de Serra em Minas. "A força política do Aécio coloca o fim da reeleição na pauta", completa o segundo suplente do ex-governador no Senado, Tilden Santiago (PSB), que votou em Marina Silva (PV) no primeiro turno. "Se o Aécio me pedir para votar no Serra neste segundo turno, não terei como negar, mas é hora de o PSDB paulista se redimir e acabar com a reeleição", adverte Tilden. Um tucano experiente adverte que Aécio pode fazer a diferença em Minas, mas com uma condição: "É preciso que haja uma tendência nacional favorável. E o clima positivo de virada prosseguirá, mas só o Serra pode dar início a isso, mostrando algo diferente. O que tem de haver é um discurso novo para o segundo turno"."Precisamos passar a falar para os eleitores que nós não conseguimos atingir e que a Marina atingiu de maneira muito especial. Isto é fundamental", sugere o secretário-geral do PSDB e deputado federal mais votado de Minas Gerais, Rodrigo de Castro.Para o presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito tucano de Conselheiro Lafaiete, José Milton Rocha, se quiser conquistar os mineiros neste segundo turno, Serra terá de encontrar um outro "mote de campanha, com apelo popular". Ele entende que será preciso, também, mudar "radicalmente" a postura e se assumir como candidato de oposição. "Para ganhar os prefeitos, ele vai ter de bater no que o PT tem de pior, que é a corrupção, com um discurso mais forte e mais firme", propõe. / COLABOROU EDUARDO KATTAH

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