''Animosidade pode adquirir contornos nacionais''

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Por Luis Flavio Sapori
Atualização:

A batalha campal travada por policiais civis e policiais militares ontem, nas ruas de São Paulo, é uma "ducha de água fria" na diretriz política que propugna a integração entre tais organizações. Deve-se reconhecer que o fato está envolto em um contexto específico, marcado por uma greve de policiais civis e pela tentativa de realizar manifestação na frente do Palácio do governo paulista. O confronto físico entre os policiais, portanto, não tem origem num antagonismo anterior entre as respectivas organizações, mas no acirramento do conflito entre o governo estadual e os policiais grevistas. Entretanto, fato de tamanha gravidade não passa incólume. Não vai ser esquecido nos dias seguintes. Um aperto de mãos entre os comandos das polícias ou mesmo uma entrevista coletiva em que ambos reafirmem o compromisso com a parceria e a cooperação não apagarão da memória dos policiais militares e civis de São Paulo, e dos demais Estados brasileiros, a cisão que foi estabelecida nas ruas. Mágoas e ressentimentos antigos tendem a voltar à tona, reacendendo uma animosidade que parecia superada ou pelo menos administrada. CLIMA DE INSATISFAÇÃO Tal animosidade pode adquirir contornos nacionais, superando as fronteiras paulistas, o que é mais preocupante. E há terreno fértil para que isso ocorra. Existe um clima de insatisfação, para dizer o mínimo, dos delegados das Polícias Civis brasileiras com os oficiais das Polícias Militares, em função da retirada da pauta de votações da Câmara dos Deputados, por pressão dos militares, no mês de junho, da PEC 549, que estabelece o reconhecimento constitucional dos delegados nas carreiras jurídicas de Estado, o que suscitaria um alinhamento salarial entre elas. O momento exige a ação firme do governo de São Paulo. A identificação de possíveis "incendiários" que atuaram na manifestação dos policiais civis é passo importante, de modo a descartar o suposto caráter coletivo da motivação que teria levado à batalha campal. De resto, é ativar canais de diálogo e de mediação de conflitos que possam atenuar animosidades ao longo do tempo. Seria bom que os demais governos estaduais fizessem o mesmo, pelo menos como precaução. *É professor da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

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