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Aplicativos e sexo de risco

O amplo uso dos aplicativos de encontro para celulares, como Tinder e Grindr, pode estar contribuindo para o aumento do número de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) nos Estados Unidos. Pelo menos essa é uma das justificativas dadas pelas autoridades de saúde para explicar a explosão de casos de sífilis, gonorreia e HIV na população de adultos jovens americanos. 

Por Jairo Bouer
Atualização:

Múltiplos parceiros, baixa adesão ao preservativo, sexo sob a influência de álcool e drogas e encontros anônimos, arranjados rapidamente pelas redes sociais e pelos aplicativos, formariam uma combinação perigosa para as práticas sexuais de risco. 

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Dados de Rhode Island (EUA), divulgados na última semana pelo jornal britânico Daily Mail, mostram que de 2013 para 2014 os casos de sífilis tiveram um salto da ordem de 79%, os de gonorreia aumentaram 30% e os de HIV cresceram 33%. Os especialistas afirmam que essa é uma tendência vista na maior parte do país. 

O aumento tem sido mais agudo na população de homens que fazem sexo com outros homens do que na população geral. Os mais jovens também estão sob maior risco.

No Brasil podemos estar assistindo a um fenômeno semelhante. Pesquisas mais recentes mostram que, por aqui, há um aumento no número de parcerias sexuais ao longo da vida, uma resistência crescente ao uso regular de camisinha, a associação entre álcool, drogas e sexo sem proteção é comum e os casos de DSTs (inclusive HIV) não dão trégua.  Nos últimos anos há, por exemplo, um aumento preocupante do número de infecções por sífilis. A população mais jovem, sobretudo dos homens que fazem sexo com outros homens, é um grupo de atenção do Ministério da Saúde, porque a taxa de infecção por DSTs cresce em um ritmo mais acelerado. E a tecnologia também tem um peso importante nos encontros sexuais casuais dos brasileiros. O País (até recentemente) só perdia para os EUA no número de acessos no Tinder.

É interessante pensar por que um encontro que começa em um aplicativo faz com que as pessoas se cuidem menos. A pressa por sexo imediato, o anonimato, a falsa sensação de segurança que a tecnologia proporciona, a dificuldade de separar o real do virtual e o “namoro” intencional com o risco são algumas das possíveis explicações. 

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Uma das possibilidades para tentar reverter esse peso da tecnologia nas práticas de risco seria usar cada vez mais as plataformas de encontro para levar informações sobre sexo seguro. 

HIV: quando tratar?. Outro estudo divulgado pelo Daily Mail na última semana concluiu que o tratamento para o vírus HIV, causador da aids, deve começar assim que o diagnóstico for feito, independentemente do estágio da infecção. A orientação em muitos países ainda é esperar por uma queda das células de defesa (CD4+) como indicador para o uso de medicação. No Brasil, já está autorizado o início do tratamento a qualquer momento.

O estudo Start (Strategic Timing of AntiRetroviral Treatment) foi feito em 215 centros de 35 países, desde 2011, e avaliou 4.685 homens e mulheres com mais de 18 anos. Foi o maior estudo controlado já feito no mundo sobre o tema, com metade das pessoas infectadas recebendo tratamento desde o início do diagnóstico e a outra metade esperando o momento de queda do CD4+ para níveis inferiores a 350 para tomar os remédios. A investigação, que deveria terminar no fim de 2016, foi interrompida 18 meses antes, dados os benefícios evidentes do início precoce dos antivirais.

Os pesquisadores avaliam que tratar logo cedo diminui as chances de evolução e gravidade da doença. Além disso, trabalhos anteriores demonstram que pessoas que estão em tratamento têm risco menor de transmitir o HIV para seus parceiros.   *Jairo Bouer é psiquiatra

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