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As mulheres e o carnaval do 'não é não'

Campanha que teve financiamento pela internet distribui nos blocos tatuagens com a mensagem

Por , Ana Paula Niederauer e Matheus Pradp
Atualização:
Mulheres se unem para evitar assédio no Carnaval de São Paulo e tatuam na pele que "não é não" Foto: Bruno Ribeiro/ESTADÃO

A mensagem que parece óbvia está colada no corpo das meninas neste carnaval: “não é não”. Uma campanha feita por meio de financiamento coletivo na internet conseguiu arrecadar mais de R$ 20 mil e agora distribui 25 mil tatuagens temporárias. O adereço com a frase “não é não” já chegou a blocos de sete cidades, entre elas São Paulo, Rio, Salvador e Recife.

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“Ainda tem cara que pega pelo braço, puxa o cabelo, tenta beijar à força. O que acontece é que, antes, as meninas ficavam quietas. Hoje, elas gritam, respondem, não deixam”, disse a estudante de Medicina Thaíse Silveira, de 21 anos, que aderiu à campanha enquanto curtia o carnaval no Acadêmicos do Baixo Augusta, neste domingo, 4. Ela usava uma camiseta transparente, com os adesivos cobrindo os mamilos.

“O que aconteceu foi que nenhum cara me abordou até agora”, contou a dona de cafeteria Raquel de Souza Lima, de 41 anos, que acompanhou o mesmo bloco. Para ela, muitos homens ainda não entendem a diferença entre uma abordagem respeitosa e o assédio. “As mulheres gostam de um elogio que respeita.”

As meninas podiam comprar a tatuagem pela internet e ainda fazer doações. Os valores variavam de R$ 10 a R$ 700 e incluíam brindes como vidros de glitter, brincos, camisetas e óculos de sol. A campanha já acabou. E agora, com o dinheiro arrecadado, tatuagens estão sendo distribuídas gratuitamente nos blocos.

Em um vídeo divulgado pela internet, as integrantes do grupo explicam que a ideia começou no ano passado, quando 40 mulheres resolveram produzir 4 mil tatuagens para o carnaval do Rio. O movimento teve tanto apoio que foi montada uma campanha maior para 2018.

No sábado, em Pinheiros, na zona oeste, a tatuagem era distribuída no bloco Ritaleena. Gabriela Ramalho, de 28 anos, foi uma das que aceitou o brinde. “Os caras têm de entender.”

Alguns homens receberam bem o recado. “Ninguém quer ser alvo de um textão (nas redes sociais) falando que você é um assediador”, conta o estudante Filipe Loreto, de 21 anos. “Carnaval é festa. Mas homem que é homem sabe agradar sem forçar a barra”, diz.

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Agressividade

Mesmo com alguma mudança, as mulheres ainda reclamam de assédio durante o carnaval. Raphaela Godoy, Laura Yumi e Letícia Iamada vieram de Campinas para seguir os blocos de São Paulo neste fim de semana. No sábado, as jovens se preparam para curtir o Casa Comigo – com vestidos, véus e muito brilho –, mas se assustaram com o comportamento agressivo e abusivo dos homens. Mudaram de ideia e foram ao show de Elba e Alceu. “O clima do bloco deixou a gente assustada, então preferimos ir para outro lugar.”

“Eu adoro carnaval, adoro dançar. Acho muito legal esse clima de festa. Mas pode acontecer de homens tentarem nos beijar a força”, reclamou Elaine Ferreira Vasconcelos, de 19 anos, que foi ao Casa Comigo. Já Aline Ferreira, de 23 anos, acompanhou o bloco pela quarta vez e não viu problemas. “É muito seguro e os homens respeitam as mulheres.”

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