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''''As pessoas dizem que foram multadas por minha causa''''

Entrevista[br]Ary Kara José: ex-relator do Código no Congresso

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Por Redação
Atualização:

Relator do Código Brasileiro de Trânsito (CBT) na Câmara dos Deputados, em 1997, o ex-deputado Ary Kara José (PTB-SP) diz carregar até hoje o ônus político ter defendido a aprovação do projeto. "As pessoas dizem que foram multadas ou perderam a habilitação por minha causa", observa. Apesar da derrota sofrida nas eleições para o Congresso Nacional de 2006 - teve 54 mil votos, ante os 70 mil que o elegeram na legislatura anterior -, acredita ter feito o certo. "Politicamente me desgastou, mas conseguimos aprovar um dos códigos mais avançados do País." Numa entrevista concedida ao Estado, ele também aproveitou para analisar o que ficou faltando regulamentar e o que precisaria ser revisto para tornar a legislação de trânsito mais atual. Na visão do senhor, qual o item mais bem-sucedido do Código Brasileiro de Trânsito? A pontuação das infrações, sem dúvida. Sou muito criticado por ter defendido essa bandeira no Congresso. Até hoje as pessoas cruzam comigo nas ruas e dizem que foram multadas ou perderam a habilitação por minha causa. Mas tenho certeza de que isso ajudou a reduzir o número de acidentes. Ainda é taxado de ser o criador da "indústria das multas"? Tem gente que fala isso, sim. Do ponto de vista político, ter sido o relator do código na Câmara fez com que eu perdesse muitos votos. Mas, pessoalmente, acho que fizemos o certo. Os governantes acabaram deturpando a lei. Algumas cidades instalaram radares para fiscalizar velocidade de 40 km/h! É lógico que isso é indústria da multa. Aqui na minha região (Vale do Paraíba), por exemplo, tem prefeito que tirou radar de local perigoso e colocou onde há um fluxo maior de veículos de outras cidades. Assim, ele não se desgasta com a população local e mantém a arrecadação. É um absurdo! Entre os itens do código que ainda não foram implementados, quais os mais urgentes? A educação de trânsito. O código exige que os três níveis de ensino, 1º, 2º e 3º graus, ofereçam matérias correlatas à educação de trânsito. O prazo para essa adequação era de 240 dias. Só que já se passaram 10 anos e nada. Além disso, todo o dinheiro arrecadado com as multas - seja em Municípios, Estados ou União - vai parar em um caixa único. As autoridades têm de aplicar o código em todas as áreas, não só nas que agradam. É lei, tem de ser cumprido. Quais pontos merecem ser revistos no código? O capítulo de crimes de trânsito. Se a Justiça não penaliza quem dirige embriagado, quem participa de rachas, cabe ao código ser mais duro. Em Seul (na Coréia), por exemplo, o exame de dosagem alcoólica é feito na hora, não há nenhum tipo de tolerância. B.T.

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