'Atlas' aponta que RN é o Estado com maior aumento da taxa de homicídio: 232%

Nº de vítimas jovens e negras teve crescimento ainda mais elevado; Secretaria de Segurança contesta metodologia

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Por Ricardo Araújo
Atualização:

NATAL - O aumento da taxa de homicídio no Rio Grande do Norte entre 2005 e 2015 foi a maior do País: 232%. O dado consta no Atlas da Violência 2017, divulgado nesta segunda-feira, 5, pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). O Estado potiguar também liderou, negativamente, índices relacionados à violência contra negros, com aumento de 331,8% no mesmo período; e ainda contra jovens, com variação de 299,6%.

Exército chegou a ser acionado para o Estado diante de uma crise de segurança neste ano Foto: Vlademir Alexandre/Estadão

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Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN), informou que “a metodologia utilizada para contabilizar os homicídios no Rio Grande do Norte inclui todas as macrocausas (ações do tráfico; violência interpessoal; violência patrimonial; ação típica de estado; não confirmadas)”. E que outros Estados, como em São Paulo, segundo consta na nota, “não estão contabilizando alguns homicídios, principalmente quando são ações típicas de Estado (confronto entre criminosos e policiais)”.

A Secretaria potiguar destaca, ainda, “que seja necessária a padronização desses dados para uma aferição mais honesta dos índices”. 

No período contemplado no Atlas da Violência, casos emblemáticos marcaram o Estado.

Caso Maisla

O sonho de Maisla Mariano era comemorar o aniversário de 11 anos com um bolo e lancheira para os amiguinhos. No caminho da loja de doces, ela foi atraída por um homem que lhe ofereceu chocolates e jamais voltou para casa. Abusada sexualmente e em seguida morta por estrangulamento, a menina teve o corpo esquartejado em onze pedaços que foram distribuídos em sacolas plásticas e jogados no lixo. 

"Minha vida mudou em tudo. Eu vivo doente. Meu marido vive doente. A gente vive com depressão e estamos sobrevivendo à base de remédios. Nós não conseguimos superar a perda. Eu não consigo mais trabalhar e já fui internada num hospital psiquiátrico por dois meses", relatou Marisa Mariano, mãe da criança.

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O ambulante Osvaldo Pereira Aguiar, réu confesso no caso, foi condenado pela Justiça a 41 anos de prisão. Hoje, ele cumpre pena na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, local da chacina que vitimou 26 presos no início deste ano durante a maior rebelião da história do sistema prisional potiguar.

Caso Luiz Ivan

Ainda sem solução, permanece o caso de Luiz Ivan Bezerra de Araújo. Paraplégico, ele foi morto aos 28 anos, na porta de casa na periferia natalense. Luiz Ivan integra o grupo de homens negros, pobres e sem acesso à educação regular. Sem emprego fixo, passou a consumir drogas e suspeita-se que ele também traficava.

"Os assassinos não foram presos até hoje. O inquérito policial foi concluído, mas ninguém indiciado. É um crime sem solução, que deixou marcas em nós, que ficamos vivos", disse o irmão da vítima, Rafael Araújo. 

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A escalada da violência, porém, não se restringiu aos anos em análise. No ano passado, 1.988 pessoas foram mortas e, neste ano, o número já está em 1.049. A maioria dos homicídios praticados com arma de fogo.

“As políticas públicas de segurança que não foram implantadas e a falta de investimentos em todo setor de segurança pública e política carcerária, principalmente no capital humano, abriu precedentes para uma falência total nas ações de segurança que levam o Rio Grande do Norte a aparecer cada vez mais nos rankings negativos de violência”, analisou o especialista em segurança pública Ivênio Hermes. 

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