Bernardo era ameaçado de morte dentro de casa, revela delegada

Vídeo do celular do pai mostra que garoto era mal tratado por Leandro Boldrini e pela madrasta

PUBLICIDADE

Por Elder Ogliari
Atualização:

PORTO ALEGRE - A delegada Caroline Bamberg Machado revelou que o menino Bernardo Uglione Boldrini, assassinado em abril, aos 11 anos, sofria ameaças e humilhações da madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, e do pai, o médico Leandro Boldrini, dentro da casa da família. Caroline falou à imprensa nesta terça-feira, em duas rápidas entrevistas, antes e depois de prestar um depoimento de quatro horas e meia ao juiz Marcos Luis Agostini, em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul.

O depoimento da delegada, responsável pela investigação do caso e pela descoberta do corpo, no dia 14 de abril, foi o primeiro da série de 77 que o juiz vai tomar na fase de instrução do processo. Como o tempo ficou escasso, 22 das 33 testemunhas que seriam ouvidas durante o dia foram dispensadas e terão audiências remarcadas para outras datas. As outras dez falariam até à noite, em sessão sem horário para acabar.

Amigos prestaram homenagem ao menino Bernardo nesta terça-feira Foto: Mauro Vieira/Agência RBS

PUBLICIDADE

O inquérito da Polícia Civil e a denúncia do Ministério Público acusaram Leandro Boldrini de ser o mentor do crime, Graciele de ser executora do plano e a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o motorista Evandro Wirganovicz de cumplicidade. Todos estão presos. O pai e a madrasta recorreram ao direito de não ir à audiência. Os irmãos Wirganovicz foram e ouviram vaias e palavrões de um grupo de dezenas de pessoas que faziam orações e pediam justiça diante do fórum.

Ao falar com os jornalistas, a delegada confirmou que um novo vídeo, extraído pelos peritos do celular de Boldrini depois de ter sido apagado e encaminhado ao processo na semana passada, tem imagens de uma briga familiar que reforça a acusação policial. "(O vídeo) mostra como o Bernardo era tratado dentro de casa", destacou a policial, que qualificou as cenas de "impactantes" e, sem descrevê-las, disse que há "ameaças de morte" e "maus tratos" ao garoto. Em outra cena também recuperada pelos peritos e citada pela delegada, o menino segue orientação do pai, toma um medicamento não identificado e fica "grogue".

Algumas transcrições obtidas pela imprensa dão ideia do material citado pela delegada. Durante a briga, segundo o jornal Correio do Povo, a madrasta chega a dizer que aconteceria com Bernardo o mesmo que aconteceu com a mãe dele, que se suicidou em 2010. Já o portal G1 cita a frase "vamos ver quem vai primeiro para baixo da terra", também de Graciele, e a reação do pai em meio à discussão. "Cala a boca, guri de merda, cagão", diz o médico ao filho. Os advogados de Boldrini e Graciele não se manifestaram até o final do dia.

A Justiça vai ouvir inicialmente as testemunhas que moram em Três Passos. Depois vai convocar as que residem em outras cidades. Ao todo, estão arroladas para prestar depoimento 25 testemunhas da acusação e 52 dos réus. Ao final serão tomados os depoimentos dos réus e colhidas as alegações finais das partes. O juiz decidirá então pela absolvição, condenação ou encaminhamento para o Tribunal do Júri. Não há data prevista para o final do processo. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.