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Berzoini anuncia afastamento da presidência do PT

As baixas no PT são o resultado da crise que se abateu sobre o partido depois do escândalo da compra do dossiê. Marco Aurélio Garcia assumirá o cargo no seu lugar

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, anunciou nesta sexta-feira seu afastamento da presidência do partido. O anúncio foi feito por ele, assim que terminou a reunião da Executiva Nacional do PT, na sede do partido. Ele estava acompanhado de Marco Aurélio Garcia, coordenador da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, por ser vice-presidente nacional da legenda, assumirá o cargo no seu lugar. Segundo Berzoini, a decisão tem o objetivo de "garantir a unidade e coesão do PT". "No calor da campanha, esses fatos e versões vêm sendo utilizados por aqueles que querem impedir o Brasil de continuar avançando para uma democracia plena, com justiça social", disse Berzoini, lendo uma nota encaminhada à militância do PT, referindo-se à participação de petistas na compra do chamado dossiê Vedoin. "Reafirmo que jamais incentivei, determinei ou concordei com nenhuma forma de ilegalidade ou irregularidade nos assuntos que estiveram sob a minha responsabilidade, razão pela qual tenho total interesse no aprofundamento e conclusão das investigações", acrescentou o parlamentar. Sem pressão Berzoini insistiu também que não sofreu nenhuma pressão para pedir o afastamento, e admitiu que o tema merecerá a atenção no debate do próximo domingo entre o presidente Lula e o candidato tucano Geraldo Alckmin e que a oposição poderá realizar "todo tipo de ilações", mas que a iniciativa dele é uma prova de "quem se coloca sem qualquer preocupação com o caso". Garcia e Berzoini disseram que não há previsão de quando o parlamentar poderá retornar à presidência do PT, assegurando apenas que Garcia permanecerá no cargo pelo menos até o segundo turno da eleição presidencial no próximo dia 29. Garcia usou de ironia ao comentar o fato de ele assumir a presidência do PT. "Tenho absoluta certeza que rapidamente será lançada luz sobre esse episódio (da compra do dossiê) e vou me ver livre desse abacaxi muito pronto, e vou devolvê-lo ao meu amigo Berzoini", declarou. Indagado se a presidência do PT significava para ele um abacaxi, Garcia respondeu: "não é um abacaxi. É um abacaxi para mim, porque eu não sou, em primeiro lugar, uma pessoa que esteja a altura dessa responsabilidade. Em segundo, porque tenho outras preferências, que é servir meu partido na Comissão Executiva, sem dúvida nenhuma no governo, e nas atribuições que eu tenho na assessoria da Presidência da República". Compra do dossiê contra tucanos Após o envolvimento de seu nome na tentativa de compra do dossiê contra os tucanos, Berzoini foi afastado da coordenação de campanha à reeleição do presidente Lula e foi substituído por Marco Aurélio Garcia, que também é da diretoria do PT. Nos últimos dias, aumentava a pressão para que ele deixasse também a presidência do partido. Outros petistas envolvidos no escândalo do dossiê também pediram desfiliação do PT, nesta sexta-feira: Hamilton Lacerda, ex-coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, e Jorge Lorenzetti, ex-analista de Mídia e Risco da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As baixas no PT são o resultado da crise que se abateu sobre o partido depois do escândalo da compra do dossiê. A princípio, Berzoini recusava-se a sair da direção e alegava ter a "consciência tranqüila". Defesa do companheiro Apesar da versão corrente de que Lula desejava a saída de Berzoini da presidência do PT, o presidente e candidato à reeleição defendeu o seu ex-coordenador de campanha, em entrevista na manhã desta sexta-feira a emissoras de rádio do Nordeste. Segundo Lula, Berzoini é "um homem importante no PT, um quadro político de muita envergadura, foi ministro da Previdência e teve um trabalho excepcional na reforma da previdência dos funcionários públicos". No entanto, Lula admitiu, nesta mesma entrevista, que o escândalo do dossiê - que acarretou na saída de Berzoini da campanha pela reeleição - contribuiu para que as eleições chegassem ao segundo turno, apesar dos prognósticos de vitória ainda no primeiro turno. Berzoini e a campanha de Lula Na última terça-feira, o presidente Lula chamou Berzoini para uma conversa reservada, no Palácio do Planalto. Lula avaliava que precisava encontrar uma solução urgente para o caso, pois não podia passar o segundo turno da campanha à reeleição "sangrando" por causa do dossiê. Planejava chegar ao debate de domingo, na TV Bandeirantes, sem tantos estragos à sua volta. Berzoini admitiu a Lula que sabia do encontro entre petistas e a revista Época para tratar do dossiê Vedoin, que associaria a imagem de José Serra, então candidato ao Governo de São Paulo pelo PSDB, à máfia dos sanguessugas. O esquema de compra do dossiê foi conduzido, segundo Lula, por um "bando de aloprados" do partido. Outros petistas envolvidos também terão seus nomes encaminhados à Comissão de Ética proposta pelo cúpula do partido. Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Valdebran Padilha, Gedimar Passos e Expedito Veloso são outros nomes de envolvidos na negociação para a compra do dossiê da família Vedoin. Colaboraram Clarissa Oliveira, Anne Warth e Jander Ramon

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