Cabral quer tropa federal no Rio até o fim do ano

Proposta é uma das que serão discutidas hoje entre os governos federal e estadual

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Por Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), chegou à reunião com a presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira da última semana, no Palácio do Planalto, com um pedido, no mínimo, inusitado, que deixou as Forças Armadas em uma verdadeira "saia justa": que as forças federais entrem imediatamente no patrulhamento das áreas mais sensíveis da cidade e só saiam de lá apenas no final do ano de 2014, depois, não só da realização da Copa do Mundo, como também do primeiro e segundo turno das eleições.

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A proposta surpreendeu e desagradou autoridades das Forças Armadas pelo extenso e indevido período. Estas e outras propostas serão negociadas nesta segunda-feira, em reunião entre os governos federal e estadual, no Rio. Dilma, segundo informações obtidas pelo Estado, foi cautelosa e prometeu que tudo ia ser estudado, para ver o que será possível atender.

Sérgio Cabral quer as Forças Armadas assumam o Complexo de Favelas da Maré, localizada na zona norte do Rio, onde a população ultrapassa os 140 mil habitantes, e onde o Batalhão de Operações Especiais (Bope) já está presente, desde a semana passada, quando houve ataques de bandidos às Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP). O Exército, principalmente, substituiria os homens do Bope. A região foi escolhida pela posição estratégica, já que a favela fica na área das vias de entrada e saída da cidade, cortando, a Avenida Brasil, além das linhas Amarela e Vermelha, pontos cruciais de escoamento durante a Copa do Mundo.

Planejamento. A entrada das Forças Armadas não deverá ser tão imediatamente como deseja o governo ou até a população, que esperava que isso já fosse ocorrer nesta segunda-feira. Ela terá de ser precedida de um planejamento e um trabalho de inteligência e logística.

Embora as Forças Armadas já estejam preparadas e trabalhando para entrar no Rio em maio, permanecendo em suas ruas até o final de julho, compreendendo o período pré e um pós Copa, a antecipação do desembarque das tropas em mais de um mês é um problema. Os próprios militares reconhecem que a estratégia política usada por Cabral e a forma como o apelo foi feito será impossível não atender, até porque criou-se uma enorme expectativa e este é um desejo no governo federal, da população local e até da presidente Dilma.

O fator facilitador é que, como o Comando integrado de controle e apoio para a Copa já está em funcionamento no Rio, com generais participando diretamente de tudo, isto facilitará a entrada em operação dos militares. A operação dependerá ainda de um pedido do governo do estado a Dilma para que ela assine um decreto autorizando a entrada das tropas, por tanto tempo, em tal lugar, com tal objetivo. E tudo ainda está sendo negociado.

Todo o trabalho das Forças Armadas será feito com base na legislação para Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que prevê regras de engajamento específicas. Essa operação será semelhante a ocorrida em anos anteriores, nos morros do Alemão e da Penha. Embora não tenha havido definição ainda de número de militares a serem empregados neste tipo de operação, a expectativa é de que seja da ordem de 2400 homens.

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Uma das queixas dos militares em missões como esta, quando uma operação das Forças Armadas acontece em conjunto com a Polícia Militar dos estados, é em relação à carga horária de trabalho. Nas PMs, em muitos casos, o regime de trabalho é de 24 horas de trabalho, por 36 ou até 48 horas de folga, dificultando a mobilização de pessoal, o que não acontece nas Forças Armadas.

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