Caravana Siga Bem abordará a violência contra a mulher

Caminhoneira que já foi vítima de violência será uma das líderes do projeto que percorrerá 24 estados do País ao longo de dez meses

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Por Monica Reolom
Atualização:

SÃO PAULO - Cassia Claro, de 39 anos, vai cair na estrada nesta terça-feira, 12, para uma jornada dez meses pelas rodovias brasileiras, a partir de São Paulo. Da boleia do caminhão, a costureira que virou caminhoneira será uma das líderes a Caravana Siga Bem que, neste ano, vai levar a 24 estados do País um tema que ela infelizmente conhece bem - a violência contra a mulher.

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Criada em 2003 e considerada a maior ação social itinerante da América Latina, a caravana terá como tema em 2015 a violência doméstica e o feminicídio. Somente no ano passado, 53 mil brasileiras foram vítimas desse crime, de acordo com a Secretaria de Política para as Mulheres do Governo Federal.

Para contribuir no combate à violência, um dos 16 caminhões da caravana servirá de palco para um peça teatral que usa elementos de comédia para falar sobre a Lei Maria da Penha - e cuja atriz principal é Cassia. A caminhoneira diz que a peça é importante para alertar sobre as diversas formas de agressão. "No meu caso, começou com agressão verbal e foi progredindo para a agressão física", diz ela, que hoje luta para conscientizar outras mulheres a falarem sobre o que enfrentaram.

Cassia Claro, motorista de um dos caminhões da Caravana Siga Bem, que vai viajar pelo país levando educação e conscientização aos motoristas Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Nas paradas ao longo dos 32 mil quilômetros percorridos, que sempre ocorrem em postos de gasolina, o público também terá acesso a uma série de serviços gratuitos - como atendimento de saúde, corte de cabelo e massagem -, palestras educativas, apresentações culturais, shows, e atividades.

Apaixonada por carros, caminhões e carretas desde a adolescência, Cassia também serve de inspiração para suas colegas. "As caminhoneiras e as mulheres apaixonadas por caminhões se identificam comigo quando me encontram. O preconceito nas empresas com motoristas mulheres ainda é muito grande", explica. Cassia começou a vida como costureira mas, depois que aprendeu a dirigir, se interessou cada vez mais por veículos grandes. Ela se tornou instrutora de trânsito e trabalhouem uma grande empresa testando carros, até que foi convidada para participar da caravana, no ano passado.

A única tristeza, agora, é ter de deixar o filho de 12 anos durante a viagem. "Nas folgas, fico agarrada nele".

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Trajetória. Duas equipes pegam a estrada nesta terça-feira: a do eixo Norte e a do eixo Sul. A primeira ação do eixo Norte será em Três Corações (Minas Gerais) enquanto a do Sul desfaz as malas em Atibaia (São Paulo). O projeto contará com 16 carretas, quatro vans e dois carros de apoio, que passarão por 110 cidades e 24 estados mais o Distrito Federal, no período entre maio de 2015 e janeiro de 2016.

Segundo o idealizador do projeto, Alexandre Côrte, a Caravana Siga Bem estabelece uma relação íntima com a comunidade e com os caminhoneiros. "O corpo a corpo traz uma capacidade de compreensão por parte das pessoas que são atendidas. É quanto você percebe que está fazendo o bem", afirma. “Nossa missão é promover cidadania e conscientização entre os caminhoneiros do Brasil, bem como proporcionar ações de entretenimento e lazer".

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