Cardeal de São Paulo cobra ''posição clara'' de candidatos sobre o aborto

D. Odilo Scherer considera presença do tema na campanha parte do legítimo jogo democrático e um dos assuntos que interessam aos eleitores, mas para ele o que definirá o voto é o conjunto de posições e propostas, e não uma questão específica

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Por André Mascarenhas
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Sem manifestar preferência partidária, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, defendeu ontem um "posicionamento claro" dos candidatos à Presidência sobre a questão do aborto e avaliou como "parte do jogo democrático" a presença do tema na campanha eleitoral.Na opinião do religioso, é importante que o assunto seja debatido pelos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), pois constitui "uma das questões que os eleitores querem saber"."É bom que a questão do aborto seja também levada em consideração dentro dos debates políticos. É uma questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece consideração política?", questionou o cardeal em coletiva sobre a Semana Nacional da Vida, em São Paulo."Acho que é desejo dos eleitores que os candidatos tenham posições claras e coerentes com aquilo que de fato pretendem levar adiante", acrescentou o cardeal.D. Odilo se esquivou de responder se são transparentes as posições de Dilma e Serra sobre a questão. Segundo ele, suas considerações foram feitas "em linhas gerais", sem conhecimento específico sobre as posições dos candidatos. Questionado se a questão poderá definir a eleição, o cardeal disse que é o "conjunto de questões e de propostas que os eleitores vão levar em consideração" na hora do voto.Contradições. As declarações foram feitas em meio à polêmica sobre a posição de Dilma acerca do tema. A disseminação de e-mails dando conta de que, no passado, a candidata petista defendeu a descriminalização da prática é apontada como um dos motivos para o fato de ela não ter vencido já no primeiro turno.Embora tenha reiterado a posição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é contrária à manifestação partidária por parte dos membros da Igreja Católica, d. Odilo atenuou a atuação do bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergozini, que tem defendido o voto em Serra. "A posição da Igreja é de que não declaramos nem partido nem candidato. Agora, se alguém faz isso por responsabilidade própria, não é a posição oficial."Subsídios. Segundo o cardeal, a função da Igreja no debate deve ser no sentido de dar subsídios para que o fiel tome sua decisão por conta própria. "A Igreja e a CNBB se propuseram a não indicar partidos nem candidatos. Mas a apontar critérios e princípios em relação à escolha, que deve ser livre e autônoma dos próprios eleitores. E essa também é a minha posição", disse.D. Odilo descarta a hipótese de punição a religiosos que contrariarem a determinação da CNBB, uma vez que "eles são livres para se manifestar". Na opinião do cardeal, é "legítimo" que haja divergência de posições dentro do episcopado, mas isso não acarreta prejuízo para a unidade da Igreja. "Não há divisão na CNBB. Evidentemente que nós somos mais de 400 bispos católicos, membros da CNBB. Temos cabeças diferentes e, muitas vezes, posições diferentes."A POLÊMICA DO ABORTOCRISE COMEÇOU COM DIVULGAÇÃO DE VÍDEO NA INTERNET1 Internet15 dias antes das eleições, pastor evangélico divulga vídeo afirmando que PT defende o aborto2 Contra-ataquePT divulga Carta ao Povo de Deus defendendo a família e prometendo não espichar a polêmica3 ReflexoÀs vésperas da eleição, pesquisas mostram queda de Dilma e maior rejeição entre evangélicos4 ResultadosEleição vai para o segundo turno, com destaque para o desempenho de Marina Silva5 Ofensiva no 2º turnoPetistas acionam lideranças religiosas para defender Dilma e dizer que ela é contra o aborto

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