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Celebração da vida

Por Luiz Antonio Santini
Atualização:

Conheci José Alencar na tarde de 27 de novembro de 2008. Naquele dia, o então vice-presidente da República aceitara meu convite para comparecer ao Instituto Nacional de Câncer (Inca) e participar da comemoração do Dia Nacional de Combate ao Câncer. Desde o diagnóstico inicial, em 1997, quando descobriu dois pequenos tumores malignos no rim direito e no estômago, até o momento em que deu aquela palestra no Inca, Alencar havia passado por mais de dez cirurgias. Mesmo assim, aos 77 anos, falou de pé por quase uma hora a uma plateia de médicos, jornalistas e profissionais de saúde. A principal mensagem: os pacientes de câncer podem e devem ter esperança na batalha contra a doença. E isso sem abrir mão da qualidade de vida.A forma otimista e, sobretudo, corajosa com que José Alencar enfrentou a doença mudou a percepção das pessoas que passam por um tratamento contra o câncer. Com suas entrevistas e a maneira aberta de enfrentar a doença, José Alencar conseguiu superar a sentença de condenação geralmente associada ao diagnóstico de um tumor maligno. Afinal, não era a opinião de um especialista. Era o depoimento - e o exemplo - de quem lutava havia mais de uma década contra a doença.Anualmente, cerca de 500 mil pessoas recebem diagnóstico de câncer no Brasil. A disposição de enfrentar a doença, aceitar e seguir os tratamentos prescritos, assim como perseverar no controle de recaídas, é fundamental. Também é fundamental a detecção precoce. José Alencar usou sua condição para levar essas mensagens ao Brasil. O comportamento dele levou a uma atitude mais positiva das pessoas em relação ao câncer.Mas ele foi além. Todas as declarações que dava em público, muitas vezes contando em detalhes os procedimentos realizados, mostravam otimismo e vontade de superação. Entre 12 e 19 de janeiro de 2008, Alencar ficou internado no Hospital Sírio-Libanês, por conta de uma infecção decorrente da quimioterapia. Recebeu alta. E, ainda debilitado, manteve o bom humor. Em uma de suas primeiras declarações, disse que queria almoçar em uma churrascaria.Alencar se tornou a prova de que é possível enfrentar o câncer e seus tratamentos sem perder o gosto pela vida. Mais ainda, o ex-vice presidente demonstrou aos brasileiros como, apesar das dificuldades, é possível não deixar a doença - por mais dolorosa que se torne - virar a protagonista de uma história. É DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA)

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