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Consórcio admite uso de material mais barato em túneis

Material foi usado em pelo menos 4 quilômetros da Linha 4 do Metrô de São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

O Consórcio Via Amarela, formado pelas maiores empreiteiras do País - OAS, CBPO (do grupo Odebrecht), Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez - admite que usou material em desconformidade com o contrato com o Metrô de São Paulo para a construção da Linha 4-Amarela. O engenheiro Wagner Marangoni, do consórcio, disse na quarta-feira, 21, que foi utilizada manta de impermeabilização de PVC com 2 milímetros de espessura, enquanto o contrato determinava uso de manta com 3 milímetros. O material, importado da Suíça, foi colocado em pelo menos 4 quilômetros de túneis onde o método de escavação por explosão foi utilizado. Projeções indicam que nos cerca de 30 mil metros quadrados seriam gastos R$ 4,5 milhões com a manta de 3 milímetros e R$ 3 milhões com a de 2 milímetros. Um engenheiro civil que era ligado à obra, mas saiu por não concordar com o método de escavação, afirmou que engenheiros da Via Amarela passaram quase um ano discutindo que espessura da manta usariam, sem ao menos consultar o Metrô. "O contrato dizia categoricamente que a manta deveria ter 3 milímetros, mas o consórcio quis mudar à revelia", disse. "Não que a de 2 milímetros seja insegura, mas em locais onde o lençol freático exerce muita pressão é mais indicado implantar a manta de 3 milímetros." Custo ou falta O motivo da troca, para o engenheiro civil, não foi falta no mercado, mas custo. Calcula-se que o metro quadrado da manta de PVC de 3 milímetros, vendida no Brasil pela multinacional Sika SA, custa de R$ 130 a R$150, já implantada. A de 2 milímetros, R$ 100. O engenheiro do consórcio nega: "Na época, não conseguíamos a manta de 3 milímetros no mercado. Houve consenso com o Metrô de que seria usada uma de 2 milímetros, depois de quase um ano de discussões. Agora estamos fazendo tratamento com injeções de componente químico que cria uma película impermeabilizante." Para Marangoni, não é comum a troca de material especificado no contrato. "Na nossa avaliação, a manta de 2 milímetros teria a mesma performance da de 3 milímetros." O Metrô informou que só responderia nesta quinta-feira, 22, se o Via Amarela avisou da troca de material e se efetivamente houve consenso, como afirma Marangoni. Entretanto, em nota de não conformidade de 4 de agosto, os técnicos do Metrô avisaram que não havia consenso: "Manta termoplástica de PVC. O Metrô informa que deve ser adotada manta de 3 milímetros na Estação da Luz." Vistorias O uso de material em desconformidade com o contrato foi detectado em vistorias de engenheiros do Metrô nas estações Morumbi, Paulista, Fradique Coutinho e Luz. Problemas foram detectados na Luz em 4 de agosto, na Fradique em 16 de outubro e na Paulista em 27 de novembro. Relatórios de inspeções mostram pelo menos 35 problemas e irregularidades em materiais utilizados na construção de túneis e nas próprias obras. As fichas de não conformidade registram rachaduras em paredes e pilares e no sistema de impermeabilização até uso de material de modo inadequado e risco para imóveis vizinhos. Na Estação Morumbi, em 2 de outubro, foram localizadas fissuras e infiltrações de água para dentro do túnel, seja através de fissuras de concretagem nas paredes ou nas juntas de dilatação. Na cobertura existem trincas com infiltrações. Segurança Marangoni afirmou que as infiltrações não comprometem a estrutura do túnel e lembrou que as "não conformidades" são poucas. "São poucas, 12, as que ainda estão pendentes, que não põem em risco a segurança da obra. O restante foi corrigido de imediato", disse. "Esses documentos, retirados do contexto técnico, levam a conclusões equivocadas sobre a segurança das obras e são tratados como denúncias que causam intranqüilidade à população." Pelo menos mais dez problemas foram apontados pelas vistorias nas obras e esperam solução. Mas, segundo Marangoni, a quantidade de problemas encontrados ao longo de toda a obra do Metrô é pequena: "Temos 26 frentes de obras que se desenvolvem há 30 meses. Foram detectadas cerca de 300 não conformidades. Estamos muito abaixo do nível médio". Segundo o Metrô informou na quarta-feira, são exatamente 305 fichas de não conformidade, das quais 270 foram respondidas e 35 serão respondidas nesta quinta. Uma questão resolvida refere-se à fábrica de revestimento de segmentos de concreto para túneis da Linha 4. O laudo mostrava desconformidade do material usado, mas a fábrica passou nos novos testes. Texto reeditado às 11h40

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