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Em 2016, brasileiro bebeu mais álcool do que a média mundial, diz OMS

Dados revelam que, no Brasil, consumo per capita entre pessoas acima dos 15 anos foi de 8,9 litros ante 6,4 no restante do mundo

Por Isabela Palhares , Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:
Correção:

O consumo de álcool per capita no Brasil  chegou a 8,9 litros em 2016 e superou a média internacional, de 6,4 litros por pessoa. Com isso, o País figura na 49.ª posição do ranking entre os 193 avaliados. Os dados foram divulgados ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

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Segundo a pesquisa, o país com o maior índice per capita de consumo de álcool é a Lituânia, onde os habitantes bebem o equivalente a 18,2 litros de álcool puro (medida que leva em conta o porcentual de álcool na bebida) por ano. A Bielorrússia aparece na sequência, com 16,4 litros por ano, seguida pela Moldávia (15,9) e Rússia (13,9). Dos dez países que ocupam as primeiras colocações, nove estão no Leste Europeu.

Na África, o consumo é, em média, de 6 litros por ano. Nas Américas, a taxa é de 8,2 e na Europa, de 10,3, puxada pelos países do leste.

Abuso do álcool pode causar mais de 200 doenças Foto: Amanda Perobelli

A OMS não vê o consumo do álcool em si como um problema, mas considera que o uso excessivo e a falta de controle em certas situações podem se transformar em ameaça. Um total de 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos pelas consequências da bebida – 5,9% de todas as mortes no mundo. No grupo das pessoas entre 20 e 39 anos, 25% das mortes têm uma relação direta com o álcool. Levantamento da OMS também constatou que o álcool pode causar mais de 200 doenças, incluindo mentais.

Leia também: Cresce número de pessoas que dirigem após consumir álcool

Responsabilidade. Para a OMS, “governos têm a responsabilidade de formular, implementar, monitorar e avaliar políticas públicas para reduzir o uso excessivo do álcool”. Entre as medidas, a entidade sugere regular o marketing de bebidas, o acesso à compra e elevar impostos.

Clarice Madruga, psicóloga da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), concorda. Segundo ela, o principal motivo para o alto consumo de álcool no País é a falta de uma política de prevenção universal. “O Brasil não adota as políticas eficazes que fizeram outros países reduzirem o consumo.”

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A psicóloga ressalta que, no Brasil, diferentemente da maioria dos países, não há uma licença específica para a venda de álcool. “Todo lugar com alvará – padaria, loja de conveniência, posto de gasolina – pode vender bebida. Isso sem falar na venda informal e para menores.” 

Segundo Clarice, entre as mulheres houve o maior aumento de consumo nos últimos anos. Com a inserção no mercado de trabalho, o acúmulo de papéis sociais e a elevação do estresse, elas estão mais expostas ao álcool e, pior, têm mais propensão à dependência. “Por causa dos hormônios, o efeito do álcool e de outras drogas é muito mais prazeroso para a mulher.” Clarice ressalta que o alto consumo de álcool traz mais prejuízos para a sociedade do que para o indivíduo. 

O publicitário Décio Perez, de 58 anos, viu a vida ser destruída por causa do álcool, mas reagiu. “É uma coisa lenta e progressiva. Você acha que está no controle, mas é engano. Você perde a família, amigos, o emprego.”

O Ministério da Saúde diz já adotar uma política que enfoca no “fortalecimento de fatores de proteção e redução de fatores de risco e vulnerabilidades que possam levar ao uso prejudicial de álcool e outras drogas”. “Entre 2013 e 2016, as ações dos programas alcançaram mais de 10 mil crianças, 47 mil adolescentes e mil famílias.”. / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

Correções

Esta reportagem foi corrigida após questionamento do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool. O texto apontava um aumento no consumo de álcool entre brasileiros entre 2006 e 2016. Conforme alertado pela instituição, porém, essa comparação não é possível devido a uma mudança na metodologia da OMS para realizar o levantamento. Após contato da reportagem, o órgão da ONU confirmou que mudou a metodologia. Segundo a OMS, os dados de 2006 se referem ao consumo de álcool registrado, já os dados de 2016 consideram também o álcool não registrado (que não é tributado e está fora do sistema usual de controle governamental e também álcool impróprio para o consumo humano como perfumes e produtos de limpeza).  

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