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Crianças nas ruas de SP são 1.842 e a maioria está a trabalho, diz Fipe

Censo encomendado pela Prefeitura mostra que maior parte vende produtos e faz atividades como malabarismo

Por Camilla Rigi
Atualização:

Em São Paulo, 1.842 crianças e adolescentes trabalham ou vivem nas ruas. Esse é o resultado da pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pela Prefeitura. O número fica bem abaixo da última estimativa da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), de 2005, que era de 4.030 crianças e adolescentes nessa situação. A pesquisa mostra que a maior parte deles - 1.040 - está na rua para conseguir algum dinheiro. Os outros 802 não estavam trabalhando quando abordados pelos pesquisadores. Esta é a primeira vez que a Prefeitura contrata uma fundação para fazer um censo das crianças com metodologia acadêmica. "O que tínhamos antes era uma contagem feita por supervisores e o monitoramento de 180 principais cruzamentos da cidade", explicou o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro. A metodologia da Fipe faz um retrato da situação. No dia 18 de junho de 2007, às 16 horas, dezenas de pesquisadores saíram pelas regiões da cidade buscando crianças e adolescentes em situação de rua. Para a escolha do dia, segundo o secretário, houve preocupação com o clima (não poderia estar muito frio) e com o horário (teria de ser o de pico de crianças nas ruas, das 16 às 20 horas). A coordenadora da pesquisa, Sivila Schor, ressalta que o resultado reflete o número de crianças e adolescentes que estavam nas ruas naquele momento e afirma que, pelo métodos adotados anteriormente pela secretaria serem diferentes dos usados na pesquisa, os resultados dos dois levantamentos não são comparáveis. A pesquisa contou pessoas em situação de rua com até 18 anos, circulando sozinhos ou acompanhados de familiares. "Foi feito tudo no mesmo dia para não ter o problema de contar a mesma criança duas vezes", explica o secretário. Apenas em quatro das 31 subprefeituras nenhuma criança foi encontrada na rua: Cidade Ademar, Perus e Parelheiros, na zona sul, e Cidade Tiradentes, na leste. A maior concentração está no centro: 42% (774). Além do centro, a zona sul é a segunda com maior número de crianças nas ruas. Em Santo Amaro, por exemplo, estão 6,1% das crianças e adolescentes. Em terceiro lugar, está a leste, com maior concentração no Itaim Paulista (2,5%). TRABALHO As 1.040 crianças e adolescentes que apenas trabalham nas ruas têm como principal fonte de renda a venda de produtos, como balas, chocolates e chicletes - são 55,9% nesse caso. Outras 21,6% prestam algum tipo de serviço, de lavar pára-brisas e engraxar sapatos a malabarismo nos semáforos; 15,6% pedem esmolas. É justamente nesta categoria que algumas características são determinantes para se ter sucesso. Os pesquisadores da Fipe constataram que, conforme as crianças crescem, a capacidade de sensibilizar as pessoas é menor. Assim, 70% dos que pedem esmola têm menos de 12 anos de idade. "É disso que as pessoas precisam se conscientizar: não pode dar esmola ou comprar produtos porque elas estão contribuindo para que essa situação se perpetue. Cria-se uma cultura de que realmente não precisa estudar ou trabalhar porque ali, no cruzamento, ela se sustenta", diz o secretário. "Quem paga o preço somos todos nós." A estimativa da secretaria,baseada na quantidade de carros que param nos principais cruzamentos, é que o trabalho nas ruas e a esmola movimentam cerca de R$ 25 milhões por ano em São Paulo. "No nosso levantamento, de cada dez carros que param, quatro dão esmola ou compram algum produto. Na base de R$ 1 cada um." ESTIGMA Ao contrário da imagem de que toda criança de rua se droga, no momento da pesquisa, das 1.842 pessoas abordadas, apenas 5,9% estavam usando algum tipo de droga. "A minha suspeita é as crianças que foram encontradas perambulando, paradas ou dormindo sem companhias de adultos também se drogam", pondera Pesaro. Com isso, a porcentagem de usuários de drogas subiria para 30,3%.

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