Cruz Vermelha do Brasil corre o risco de ser suspensa

Missão internacional foi enviada ao País; auditoria mostrou desvio de R$ 25 mi em donativo e repasse público entre 2010 e 2012

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Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - A Cruz Vermelha brasileira corre o risco de ser suspensa da Federação Internacional da Cruz Vermelha se não der uma resposta à crise de corrupção descoberta na entidade. A informação é de Matthias Schmale, subsecretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha. Ele afirmou ao Estado que, na semana passada, uma missão da entidade foi enviada ao Brasil para reuniões. 

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Segundo ele, uma “chance” está sendo dada aos representantes brasileiros da instituição para que provem que estão dispostos a lutar contra a corrupção da administração que os precedeu. Mas, se nos próximos meses nada for feito para remediar a situação, a instituição com sede em Genebra já fala em suspensão, algo que só esteve perto de acontecer com a África do Sul durante o regime do apartheid.

Auditoria encomendada pela própria entidade foi concluída em maio deste ano com indícios de desvio de pelo menos R$ 25 milhões arrecadados com donativos e repasses públicos para ajudar vítimas de catástrofes, entre 2010 e 2012. Os responsáveis já foram afastados.

Auditoria encomendada pela própria entidade foi concluída em maio deste ano com indícios de desvio de pelo menos R$ 25 milhões Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Schmale afirmou que a atual gestão da Cruz Vermelha no Brasil se comprometeu a agir e corrigir as falhas. Genebra assinou um compromisso formal com a entidade brasileira, estipulando que o dinheiro desviado seja recuperado. “A liderança da Cruz Vermelha no Brasil se comprometeu a devolver o dinheiro a quem fez as doações ou a destinar o volume às populações que precisavam ser ajudadas”, explicou o número 2 da entidade em Genebra. 

A organização ainda quer que os responsáveis sejam levados à Justiça no Brasil. “Estamos dando uma chance e torcendo para que tudo seja feito. Mas, se nada acontecer, não vamos ter alternativa”, indicou.

“Uma das opções seria a suspensão, o que indica que os brasileiros não poderiam participar de nossas assembleias mundiais e seriam cortados do financiamento internacional”, destacou. Questionado sobre quanto tempo a nova direção teria para agir, Schmale não deu um prazo. Mas alertou: “O tempo está se esgotando”.

Outro lado. Para a Cruz Vermelha Brasileira, a suspensão da Federação Internacional seria “improcedente”, já que representantes da entidade internacional estiveram no País recentemente e “saíram com uma mensagem de confiança”.

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“O Comitê de Mediação e Cumprimento (órgão encarregado de verificar denúncias) visitou nossas filiais, acompanhou nosso trabalho e saiu daqui sem notícia de que isso (suspensão) pudesse acontecer. Nos últimos dois anos, estamos unidos em uma tentativa de soerguer a Cruz Vermelha brasileira”, afirmou o secretário-geral do órgão nacional, coronel Paulo Roberto Costa e Silva. 

Segundo ele, desde a auditoria, a unidade brasileira faz um “saneamento financeiro” na sede e nas filiais. Costa e Silva afirmou que, em maio deste ano, entregou cópias da conclusão da auditoria para a Delegacia Fazendária, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Rio, que investigam denúncias de desvio de verbas. / COLABOROU THAISE CONSTÂNCIO

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