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D. Paulo 'continua vivo, não só em memória', diz d. Angélico

Após missa na Sé, d. Angélico Sândalo Bernardino destacou a luta do cardeal pelos direitos humanos e aproveitou para criticar a PEC do Teto

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - O bispo d. Angélico Sândalo Bernardino, emérito da Diocese de Blumenau, em Santa Catarina, disse que d. Paulo Evaristo Arns, que morreu nesta quarta-feira, 14, aos 95 anos, "continua vivo, não só em memória, mas de fato". "Porque, discípulo de Jesus, ele acreditou: 'Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá'. E agora o endereço dele é lá no céu", disse na manhã desta quinta-feira, 15, após celebração da missa das 10 horas na Catedral da Sé, na região central da capital paulista. 

Catedral da Sé. Cerimônias serão ininterruptas até o sepultamento, marcado para sexta Foto: JF DIORIO /ESTADÃO

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Bernardino destacou a luta de d. Paulo Evaristo pelos direitos humanos. "Fica para nós o legado importante. Não nos esqueçamos que nas crises, no sofrimentos d. Paulo, pastor e profeta, sempre dizia para o seu povo: 'Confiança, vamos avante, com esperança e esperança'. Era defensor dos direitos humanos", disse.

O bispo lembrou, em seguida, que o cardeal promoveu um ato ecumênico na catedral em memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado na sede do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2° Exército. Mais de 8 mil pessoas compareceram à cerimônia. "Dom Paulo nunca curvou a fronte diante dos poderosos."

PEC do Teto. Ao lembrar da militância do cardeal, o bispo aproveitou para criticar a reforma na Presidência e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto. "O que nos resta agora é agarramos com entusiasmo o seu legado importante para que o povo sofrido, a classe trabalhadora, não seja nas reformas em que temos necessitados os primeiros a sermos pisados", afirmou d. Angélico.

"Temos os marajás da República que precisam ser considerados na reforma da previdência, e não começar a vitimar pelos pobres, pelos assalariados do mínimo. Também nas reformas, que não continuemos a privar o setor da saúde, da educação", declarou. "E que as terras dos índios sejam demarcadas diante da voracidade crescente daqueles que querem abocanhar aquilo que resta para os povos indígenas." 

Moradores de rua. Por sua vez, o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, lembrou que d. Paulo foi o responsável por criar o Vicariato Episcopal do Povo de Rua da Arquidiocese. "Foi num dia de Natal, há mais de 20 anos. A vida de d. Paulo foi sempre do lado do fraco, de quem estava fora", afirmou. "Quando os moradores de rua vinham à missa, eles ficavam no altar, muitas vezes ele punha sentado na cadeira dele."

O padre relembrou um episódio durante um inverno. "D. Paulo foi o bispo em que, em um inverno muito forte no governo Paulo Maluf (PPB), foi para debaixo do Viaduto do Glicério (na região central de São Paulo) e mandou avisar ao prefeito: ou abrem os abrigos, ou o arcebispo de São Paulo vai dormir debaixo do viaduto." 

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Lancelotti destacou que "o silêncio de d. Paulo é um grito eloquente" em meio à corrupção no País. "Defendam os trabalhadores, os desempregados. Cuidem dos aposentados, trabalhem pela educação, defendam a saúde. D. Paulo veio para defender os pobres, e é isso que o Brasil está esquecendo."