D. Paulo 'continua vivo, não só em memória', diz d. Angélico
Após missa na Sé, d. Angélico Sândalo Bernardino destacou a luta do cardeal pelos direitos humanos e aproveitou para criticar a PEC do Teto
Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
SÃO PAULO - O bispo d. Angélico Sândalo Bernardino, emérito da Diocese de Blumenau, em Santa Catarina, disse que d. Paulo Evaristo Arns, que morreu nesta quarta-feira, 14, aos 95 anos, "continua vivo, não só em memória, mas de fato". "Porque, discípulo de Jesus, ele acreditou: 'Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá'. E agora o endereço dele é lá no céu", disse na manhã desta quinta-feira, 15, após celebração da missa das 10 horas na Catedral da Sé, na região central da capital paulista.
PUBLICIDADE
Bernardino destacou a luta de d. Paulo Evaristo pelos direitos humanos. "Fica para nós o legado importante. Não nos esqueçamos que nas crises, no sofrimentos d. Paulo, pastor e profeta, sempre dizia para o seu povo: 'Confiança, vamos avante, com esperança e esperança'. Era defensor dos direitos humanos", disse.
O bispo lembrou, em seguida, que o cardeal promoveu um ato ecumênico na catedral em memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado na sede do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2° Exército. Mais de 8 mil pessoas compareceram à cerimônia. "Dom Paulo nunca curvou a fronte diante dos poderosos."
A trajetória de d. Paulo Evaristo Arns
1 / 25A trajetória de d. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns celebramissa de sétimo dia da morte de Alexandre Vannucchi Leme, na Catedral da Sé, emSão Paulo, em 30 de março de 1973. Vannucc... Foto: ESTADÃO Mais
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns defende a anistia em 2 de novembro de 1978 Foto: ALFREDO RIZZUTTI/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns (centro)visita a região do Vale do Ribeira,14 de fevereiro de 1989 Foto: LENA VETTORAZZO/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
Imagem de D. Paulo Evaristo Arns em 17 de setembro de 1996 Foto: LUIZ PAULO LIMA/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns durante celebração eucarística dos 65 anos de sua Ordenação Sacerdotal, na Catedral da Sé, região central de São Paulo Foto: ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns se encontra com o papa Paulo VI, em São Paulo, nos anos 70 Foto: ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns em 30 de março de 1972 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D. PauloEvaristo Arns, arcebispo de São Paulo,durante missa solene na catedral da Sé em São Paulo em homenagem ao estudante Alexandre Vannuchi Leme, m... Foto: EPITACIO PESSOA/AEMais
D. Paulo Evaristo Arns
Imagem de D. Paulo Evaristo Arns em 31 de outubro de 1975 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns concede entrevista ao lado deUlysses Guimarães (centro), em São Paulo, em1978 Foto: Estadão
D. PAULO EVARISTO ARNS
Imagem de D. Paulo Evaristo Arns em 26 de julho de 1978 Foto: Acervo/Estadão
D. PAULO EVARISTO ARNS
D. Paulo Evaristo Arns com crianças em 8 de agosto de 1978 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns (à direita) se encontra comTancredo Neves, na capital paulista, em1 de janeiro de1980 Foto: SIDNEY CORRALLO/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arnsvisita penitenciária em São Paulo, em1980 Foto: ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns em 4 de outubro de 1981 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
Imagem de D. Paulo Evaristo Arns em 3 de junho de 1983 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns em 20 de março de 1989 Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D. Paulo Evaristo Arns e LuizEduardo Greenhlagh, que atuou como advogado de presos políticos Foto: Acervo/Estadão
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arnsé fotografado nas eleições presidenciais de1989 Foto: CESAR DINIZ/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
Encontro de d. Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel em 31 de dezembro de 1993 Foto: NELSON ALMEIDA/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, ao lado de d. Paulo Evaristo Arns, durante missa em celebração do aniversário da cidade em 1994 Foto: NELSON ALMEIDA/ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns se encontra com o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na capital paulista, em 1995 Foto: ESTADÃO
D. Paulo Evaristo Arns
O rabino Henry Sobel beija o rosto de d.Paulo Evaristo Arnsdurante ato religioso que lembrou o Dia Mundial de Luta contra a Aids, realizado no Institu... Foto: HEITOR HUI/ESTADÃO Mais
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns e irmã, a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, chegam ao Mosteiro de São Bento, em São Paulo, para audiência com o p... Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃOMais
D. Paulo Evaristo Arns
D.Paulo Evaristo Arns durante celebração eucarística dos 65 anos de sua Ordenação Sacerdotal, na Catedral da Sé, região central, em27 de novembro de20... Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃOMais
PEC do Teto. Ao lembrar da militância do cardeal, o bispo aproveitou para criticar a reforma na Presidência e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto. "O que nos resta agora é agarramos com entusiasmo o seu legado importante para que o povo sofrido, a classe trabalhadora, não seja nas reformas em que temos necessitados os primeiros a sermos pisados", afirmou d. Angélico.
"Temos os marajás da República que precisam ser considerados na reforma da previdência, e não começar a vitimar pelos pobres, pelos assalariados do mínimo. Também nas reformas, que não continuemos a privar o setor da saúde, da educação", declarou. "E que as terras dos índios sejam demarcadas diante da voracidade crescente daqueles que querem abocanhar aquilo que resta para os povos indígenas."
Despedida de d. Paulo Evaristo Arns
1 / 21Despedida de d. Paulo Evaristo Arns
Velório na Catedral da Sé
Aos 95 anos, d. Paulo Evaristo Arns estava internado desde o dia 28 com broncopneumonia - e não resistiu à piora da função renal e à falência múltipla... Foto: JF Diório/EstadãoMais
Velório na Catedral da Sé
O caixão entrou pela porta principal da Sé carregado por seis sacerdotes, entre eles o padre Júlio Lancelotti, vigário episcopal para os moradores de ... Foto: JF Diório/EstadãoMais
Velório na Catedral da Sé
Quando a urna foi aberta, padre Júlio Lancelotti beijou a testa de d. Paulo. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O velório, ininterrupto até o funeral, teve início com a missa celebrada pelo cardeal Scherer - que “voltou à cruz” na homilia. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O arcebispo relembrou que d. Paulo nasceu em 14 de setembro, Dia da Exaltação da Cruz, e morreu em 14 de dezembro, festa de São João da Cruz. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
A Missa de 'sétimo dia' por d. Paulo, em cada paróquia, será no dia 21 de dezembro. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), compareceu à cerimônia acompanhado dojurista Antônio Carlos Malheiros. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
Alckmin afirmou que d. Paulo "ajudou a mudar a história do Brasil". Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O cardeal Arns comandou a Arquidiocese de São Paulo entre 1970 e 1998 – quando renunciou pelo limite de idade. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
Ao final da missa de d. Odilo, as pessoas que estavam presentes na catedral pediram para se aproximar do corpo de d. Paulo, mas, por causa da presença... Foto: JF Diório/EstadãoMais
Velório na Catedral da Sé
O cardeal estava internado na UTI do Hospital Santa Catarina. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O bispo d. Angélico Sândalo Bernardino, emérito da Diocese de Blumenau, em Santa Catarina, disse que d. Paulo Evaristo Arns "continua vivo, não só em ... Foto: Sérgio Castro/EstadãoMais
Velório na Catedral da Sé
O vereador eleito de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) compareceu à cerimônia na Catedral da Sé. Foto: Sérgio Castro/Estadão
Velório na Catedral da Sé
Ao lado de Suplicy, estava o padre Júlio Lancelotti,da Pastoral do Povo de Rua, lembrou que d. Paulo foi o responsável por criar o Vicariato Episcopal... Foto: Sérgio Castro/EstadãoMais
Velório na Catedral da Sé
Velório de d. Paulo Evaristo Arns foi acompanhado por uma multidão. Alguns se aproximaram do caixão para se despedir do cardeal. Foto: Sérgio Castro/Estadão
Velório na Catedral da Sé
D. Paulo Evaristo Arns era um grande defensor dos direitos humanos. Foto: Sérgio Castro/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O cardeal teve uma atuação importante durante a ditadura militar. Foto: Sérgio Castro/Estadão
Velório na Catedral da Sé
'Eu e as freiras tínhamos medo de que alguém fosse fazer algum mal a ele por tudo que tinha acontecido. Mas ele tirava o medo da gente' Foto: Luiz Fernando Toledo/Estadão
Velório na Catedral da Sé
O velório de d. Paulo Evaristo Arns ocorre na Catedral da Sé, na região central da capital paulista, entre os dias 14 e 16 de dezembro Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
A Arquidiocese de São Paulo divulgou comunicado solicitando que todos os sacerdotes da circunscrição celebrem missas em intenção a Arns por sete dias. Foto: JF Diório/Estadão
Velório na Catedral da Sé
Alckmin decretou luto oficial de três dias no Estado de São Paulo. Foto: JF Diório/Estadão
Moradores de rua. Por sua vez, o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, lembrou que d. Paulo foi o responsável por criar o Vicariato Episcopal do Povo de Rua da Arquidiocese. "Foi num dia de Natal, há mais de 20 anos. A vida de d. Paulo foi sempre do lado do fraco, de quem estava fora", afirmou. "Quando os moradores de rua vinham à missa, eles ficavam no altar, muitas vezes ele punha sentado na cadeira dele."
O padre relembrou um episódio durante um inverno. "D. Paulo foi o bispo em que, em um inverno muito forte no governo Paulo Maluf (PPB), foi para debaixo do Viaduto do Glicério (na região central de São Paulo) e mandou avisar ao prefeito: ou abrem os abrigos, ou o arcebispo de São Paulo vai dormir debaixo do viaduto."
Publicidade
Lancelotti destacou que "o silêncio de d. Paulo é um grito eloquente" em meio à corrupção no País. "Defendam os trabalhadores, os desempregados. Cuidem dos aposentados, trabalhem pela educação, defendam a saúde. D. Paulo veio para defender os pobres, e é isso que o Brasil está esquecendo."