Delegacia do Idoso vira reduto de policiais suspeitos de achaque

Representantes da terceira idade reclamam; acusados só têm função administrativa, diz SSP

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Por e Rodrigo Pereira
Atualização:

As delegacias de proteção ao idoso foram o destino de pelo menos quatro dos policiais investigados pela Corregedoria da Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual (MPE) por supostos achaques, roubos e torturas praticados contra o megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) alega que o critério de transferência foi estabelecido pela Delegacia Geral de Polícia e que todos os afastados estão em funções administrativas. O remanejamento, porém, é visto com reprovação por representantes dos idosos e até por associações policiais. "Dá a impressão de que são delegacias sem importância", afirma o presidente da Associação dos Delegados de São Paulo, José Leal. "A administração teria sido mais feliz se tivesse colocado essas pessoas em outros departamentos." Das oito delegacias de proteção ao idoso previstas para serem criadas na capital pela administração José Serra (PSDB), duas estão em funcionamento - no centro e na zona sul da cidade. O papel dos policiais afastados, segundo a SSP, é ajudar na montagem desses distritos, solicitando todo o aparato necessário para o funcionamento, como viaturas, material de escritório e a rede de comunicação. "O trabalho nas delegacias do idoso é mínimo. Por isso é que esses policiais foram deslocados para lá", acusa o presidente do Sindicato dos Investigadores, João Batista Rebouças. O afastamento tira o policial suspeito da condução de inquéritos e de todo tipo de investigação. O objetivo é evitar que ele interfira no trabalho da Corregedoria ou volte a cometer crimes. Mas, no caso dos investigados por extorsões contra o bando de Abadía, o desligamento das funções resultou na redução da jornada de trabalho e em serviço incerto. Em um mês, eles trabalham 44 horas menos que os colegas dos outras delegacias do Estado, além de ter garantidos todos os finais de semana e feriados. Dos oito afastados no início do mês por suposto envolvimento nos achaques ao traficante colombiano, pelo menos quatro foram deslocados para delegacias de proteção ao idoso. Antes de ser preso acusado de ameaçar, torturar e roubar suspeitos de tráfico em Campinas, o delegado Pedro Luiz Pórrio foi transferido da Delegacia de Entorpecentes (Dise) de Osasco para a delegacia do idoso da 5.ª Seccional (Leste), que ainda não saiu do papel. Outro delegado, Irani Guedes Barros, passou a coordenar a instalação da delegacia do idoso da 2.ª Seccional (Sul). "Não me sinto desprestigiado", diz Barros. "Esse delegacia é tão importante quanto qualquer outra." O investigador Francisco Carlos Vintecinqüe foi remanejado para a mesma delegacia de Barros e Hélio Basílio dos Santos, para a 1.ª delegacia do idoso, na Estação República do Metrô. A presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso, Irene Cruz Annes da Silva, repudiou a transferência dos policiais. "É lamentável que as delegacias sejam montadas por pessoas tão despreparadas", protesta. "Esses policiais estão sob investigação. Qual o grau de comprometimento que eles têm com o projeto?", questiona. "É lamentável uma atitude dessas", protestou João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, ligado à Força Sindical. "O governo não cumpre o Estatuto do Idoso, e agora manda o que tem de podre na polícia para criar algo novo para nós."

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