Delegado diz que PMs fizeram ‘manobra’ para culpar traficantes no caso Amarildo

Rivaldo Barbosa foi a primeira testemunha a depor no processo em que 25 militares são acusados de envolvimento na morte do pedreiro Amarildo de Souza, na Rocinha

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Por Marcelo Gomes
Atualização:

Primeira testemunha a depor no processo em que 25 policiais militares são acusados de envolvimento na morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, na Favela da Rocinha, zona sul do Rio, o delegado Rivaldo Barbosa afirmou nesta quinta-feira, 20, que os réus fizeram "uma manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura que resultou na morte da vítima".

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De fato, a primeira linha de investigação da Divisão de Homicídios apontava que a morte de Amarildo teria sido cometida pelo traficante Thiago da Silva Mendes Neris, o Catatau. A principal prova era uma ligação telefônica, supostamente feita por Catatau para o celular do soldado Rodrigo Avelar (que agia infiltrado na quadrilha de traficantes da Rocinha com autorização judicial), em que o criminoso assumia a autoria da morte de Amarildo.

Mais tarde, a polícia descobriu que a voz da ligação era do soldado Marlon Campos Reis, outro indiciado pela morte de Amarildo. Ele sabia que o celular de Avelar estava sendo monitorado no inquérito da Operação Paz Armada, que resultou na prisão de diversos traficantes da Rocinha na véspera do sumiço de Amarildo, ocorrido na noite de 14 de julho do ano passado.

Em um depoimento que durou quase três horas, o delegado afirmou ainda que podem existir outros "Amarildos" na Rocinha, já que haveria provas nos autos de que seriam recorrentes as práticas de tortura e ameaças contra moradores da Rocinha por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela.

O delegado contou que, em seu depoimento, o major afirmou que após ter sido levado à sede da UPP para averiguação, Amarildo "deixou o local tranquilamente, e que depois foi sequestrado" (por traficantes).

A viúva de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva acompanhou a sessão, acompanhada de um filho, Anderson Dias, e da sobrinha, Michele Lacerda.

"Tenho ódio, ódio, ódio. Principalmente do major, que prometeu que meu marido voltaria para casa e depois disse na minha cara que ele só ficou na UPP por dez minutos e foi embora a pé. Não tenho mais esperanças de encontrar Amarildo vivo. Mas, pelo menos, queria achar os restos mortais para poder enterrá-lo", disse Bete.

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O processo tramita na 35ª Vara Criminal. A imprensa não foi autorizada a acompanhar a sessão. O conteúdo dos depoimentos foi informado pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio. Os 25 réus estavam presentes.

A acusação arrolou 19 testemunhas. Uma nova data será marcada para a audiência de instrução e julgamento. Depois das oitivas de todas as testemunhas, os réus serão interrogados. Dos 25 PMs, 13 aguardam o julgamento presos preventivamente. Eles respondem pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e fraude processual.

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