Distrito vizinho de presídio no RN convive com medo e fugas
Em 2016, 102 escaparam em 14 ocorrências; bairro é mais antigo que a prisão e tem acesso por estrada de terra
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Por Marco Antônio Carvalho
Atualização:
NÍSIA FLORESTA - Não mais que 15 metros distante do quintal da aposentada Terezilda Freire, de 73 anos, está a muralha da Penitenciária de Alcaçuz. De dentro da casa dela, no início da tarde desta quinta-feira, 19, era possível ver parte dos detentos que ocupavam o telhado do pavilhão 3 e se revezavam como numa guarda para observar o movimento dos rivais no pavilhão 4 e 5 e evitar um novo ataque.
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Da parte dela, o único sinal de preocupação foi um portão que ela deixou fechado, mas amanheceu aberto no início desta semana. "Devem ter sido os agentes fazendo buscas", disse numa voz pausada de quem havia interrompido o almoço para contar a rotina no distrito de Hortigranjeira, em Nísia Floresta, na Grande Natal.
A tranquilidade, mesmo em meio a rebelião desta semana que deixou 26 mortos e que ainda se estendia até a tarde desta quinta-feira, é incomum para os moradores da região. O distrito, formado a partir de um assentamento, é mais antigo do que a penitenciária, inaugurada em 1998.
Acessado por estrada de barro a partir de pistas que levam a praias do litoral sul potiguar, o distrito vê sua rotina ser interrompida sempre que há uma fuga. E não são poucas: em 2016, 102 escaparam em 14 ocorrências.
"Minha irmã me ligou segunda-feira dizendo que vinha me tirar daqui para passar uma semana com ela em Natal. Mas, por enquanto, vou ficando", acrescentou a aposentada.
Detentos fazem batalha campal na Penitenciária de Alcaçuz, no RN
1 / 13Detentos fazem batalha campal na Penitenciária de Alcaçuz, no RN
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Detentos usaram plástico, madeira e outros objetos paramontar barricadas e atacar presos de facções rivais Foto: Andressa Anholete/AFP
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Os detentos usaram vários objetos e improvisaram lanças e armas Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Do lado de fora da penitenciária, policiaisfizeram disparos com balas de borracha e lançaram bombas de efeito moralpara tentar impedir a aproximação d... Foto: Andressa Anholete/AFPMais
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Policiais militares reagiram e fizeram disparos com armas não letais para tentar conter o confronto entre os presos Foto: Marco Antônio Carvalho/Estadão
Briga entre facções em Nísia Floresta
As primeiras informações indicam que presos do Primeiro Comando da Capitalavançam sobre detentos do Sindicato do Crime RN Foto: Andressa Anholete/AFP
Guerra entre facções em Nísia Floresta
PM atirou várias bombas de efeito moral para tentar conter o confronto Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Uma grande quantidade de tiros pôde ser ouvida na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal Foto: Andressa Anholete/AFP
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Alguns dos detentos colocaram camisetas na cabeça para esconder o rosto Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Desde o massacre, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz está tomada pelos detentos, que caminham livremente no pátio - as celas foram destruídas Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Guerra entre facções em Nísia Floresta
A Penitenciária Estadual de Alcaçuz é a maior do Rio Grande do Norte Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Detentos hastearam bandeiras durante a batalha campal na Penitenciária de Alcaçuz Foto: Marco Antônio Carvalho/Estadão
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Na tentativa de evitar fugas, a Força Nacional realiza rondas em volta de Alcaçuz Foto: Andressa Anholete/AFP
Guerra entre facções em Nísia Floresta
Este confronto aconteceu seis dias após o fim do massacre na penitenciária que terminou com 26 mortos Foto: Josemar Gonçalves/Reuters
Trauma. As consequências de conviver com a maior cadeia do Estado no quintal de casa traumatizaram o pedreiro Francisco da Silva, de 28 anos. Há quatro anos, enquanto tentava controlar uma tentativa de fuga, segundo ele contou, a Polícia Militar fez disparos. Uma das balas atravessou a janela de uma casa que ele construía no distrito, e o estilhaço do projétil o atingiu no queixo, levando-o a pensar que havia sido ferido com gravidade. Foi atendido e não ficou com sequelas. Ao menos, não sequelas físicas.
"Meu maior medo aqui é a polícia. Os bandidos são perigosos, mas ele fogem e não nos afetam em quase nada. Já a polícia, pouco preparada, faz disparos para qualquer canto, podendo atingir qualquer um", disse.
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Mesmo diante da ocorrência, Silva não deixou a região. Ele pode atribuir a decisão a sua mulher, a enfermeira, Ana Costa, de 27 anos. Para ela, a penitenciária vizinha é sinônimo de segurança, com rondas diárias na vila.
"Realmente, teve o incidente com o meu marido, mas tirando isso a presença dela aqui não nos faz mal nenhum. Tem vez que acontecem coisas dentro da cadeia e a gente só vai saber porque deu no jornal", disse.
Porém, segundo ela contou, não foi isso que aconteceu na rebelião mais recente. Desde sábado, o filho do casal, de 3 anos, não dorme com as sirenes que varam a noite em operações no presídio. "Vamos ver se ele vai conseguir dormir hoje", afirmou Ana.
Perto dali, na rua da frente, a auxiliar de serviços gerais Edinalva Miguel da silva, de 42 anos, e a consultora de vendas Claudia Souza, de 49, conversavam na calçada e concordavam sobre o perigo da região.
"É bem verdade que o presídio nos incomoda, apesar de nunca ter acontecido nada comigo. Há sempre aquele medo. Dessa última vez, foi muita bala, muito grito, muita explosão", lembrou Edinalva.
Da frente da casa da amiga Claudia, também era visível as bandeiras hasteadas pelas facções que ainda tremulavam e lembravam que a rebelião não havia acabado.
Veja imagens do interior do presídio de Alcaçuz
1 / 14Veja imagens do interior do presídio de Alcaçuz
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Corredor da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Uma das celas da Penitenciária Estadual de Alcaçuz Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Mais detalhes da cela Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
A Penitenciária Estadual de Alcaçuz é a maior do Rio Grande do Norte Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Área externa do presídio Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Alcaçuz se localiza na cidade de Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal, a cerca de 25 quilômetros da capital potiguar Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Corredor de celas da penitenciária Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Sala de aula do presídio Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Cozinha onde os funcionários do presídio preparam refeições para os detentos Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Preparo de refeição para os detentos Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Sanitário de uma das celas Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Grades que separam ala do presídio Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
Área reservada apenas a funcionários da cadeia Foto: Divulgação
Penitenciária de Alcaçuz (RN)
O massacre de 14 de janeiro de 2017 foi a maior matança registrada na Penitenciária Estadual de Alcaçuz Foto: Divulgação