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Do agreste ao show do U2 pela 1ª vez no avião

Por Angela Lacerda
Atualização:

Aluyrdes Alberto Lopes de Melo nasceu há 42 anos em uma família pobre em Correntes, a 285 quilômetros de Recife, no agreste. Abandonados pelo pai, aos 10 anos, ele e os três irmãos acompanharam a mãe em busca de uma vida melhor na capital pernambucana. Filho mais velho, Beto, como ele é conhecido, se sentia responsável pela família. Em Recife, cortou lenha para padaria, levou compras de supermercados nas casas dos clientes e trabalhou em restaurante. Com dificuldade, conseguiu fazer um curso de contabilidade (equivalente ao segundo grau). Fez vestibular para Administração, Estatística e Direito. Não passou em nenhum. "Nem podia, minha base era muito fraca." Casou-se, teve um filho, Adam Clayton (assim batizado em homenagem ao baixista da banda U2), e foi morar em Olinda. Há cinco anos sua vida começou a mudar. Conseguiu um contrato para prestar serviço de manobrista a um restaurante. Correu atrás e hoje é dono da Belo Terceirização Ltda, que emprega cerca de 30 funcionários. Mensalmente consegue R$ 5 mil livres. Tem duas casas no Alto da Bondade, um carro popular, uma moto, uma Kombi. Diz nunca ter recebido nada do governo. Nem quando criança pobre, nem como jovem carente, nem como pequeno empresário. "Criei minha empresa na marra", diz. Como observou o ex-presidente Fernando Henrique em seu artigo O Papel da Oposição, Melo não se sente em conexão com os políticos, aos quais coloca em um mesmo e vergonhoso patamar. Eleitor de Dilma, atendendo ao pedido de Lula, diz que as políticas públicas no Brasil são "uma negação". Decepções à parte, semana passada o novo integrante da classe média realizou um sonho: assistiu o show do U2, em São Paulo. Viajou com a mulher, de avião, pela primeira vez.

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