Dois homens confessam ter atirado em engenheiro no Complexo da Maré

Rapaz de 25 anos e menor de 16 se apresentaram à polícia; Gil Barbosa, que entrou por engano em favela, está em estado grave

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Por Marcelo Gomes
Atualização:

RIO - Dois homens, entre eles um menor de 16 anos, se apresentaram na tarde desta segunda-feira, 10, no 22º Batalhão da Polícia Militar (Maré) e disseram que foram os autores dos tiros que atingiram o engenheiro Gil Augusto Gomes Barbosa, de 53 anos, e o catador de latas Josias Tenório da Silva, na manhã do último sábado, 8, na Favela Vila do João, no Complexo da Maré, às margens da Linha Amarela. Jone Barbosa, de 25 anos, e o menor estão sendo levados para a 21ª Delegacia de Polícia (Bonsucesso), onde prestarão depoimento. Os dois estão acompanhados de um advogado e estavam com duas pistolas: uma calibre 9 milímetros e outra calibre .40.

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O delegado Jose Pedro Costa da Silva, da 21ª DP, disse ao Estado que já sabe que havia cinco pessoas no grupo que efetuou os disparos contra o carro que o engenheiro dirigia. "Já identificamos alguns dos envolvidos, que estão sendo procurados. Vamos agora tentar apontar quem de fato atirou no veículo."

Barbosa estava indo buscar sua mulher no Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, zona norte, quando recebeu uma ligação dela avisando que já estava num táxi de volta para casa, na Barra da Tijuca, zona oeste. O engenheiro, então, decidiu pegar um retorno e entrou por engano na Vila do João. Ele acabou sendo atingido na cabeça por um tiro, supostamente disparado por traficantes.

A Secretaria Estadual de Saúde informou nesta segunda-feira que o engenheiro permanece internado em estado grave no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte. Segundo a polícia, o projétil que atingiu Barbosa entrou pelo vidro traseiro esquerdo do carro, que tinha película escura (insulfilm) em todos os vidros. Silva passava a pé pelo local e foi atingido por uma bala perdida nas nádegas. Ele passa bem.

Sem sinalização. A Linha Amarela é uma das três principais vias expressas do Rio, e liga à Barra da Tijuca à Ilha do Fundão (sede da UFRJ), passando pela Avenida Brasil e pela Linha Vermelha. Para chegar ao Aeroporto Tom Jobim, o motorista precisa pegar um pequeno trecho da Linha Vermelha, antes de chegar à Ilha do Governador.

Atualmente não há nenhuma placa indicando a entrada para a favela Vila do João, dominada por traficantes, na pista sentido Ilha do Fundão da Linha Amarela. Mais à frente, há uma outra saída, que dá acesso à Vila dos Pinheiros, outra favela do Complexo da Maré. Este acesso, no entanto, está sinalizado com uma placa.

Já do outro lado da via expressa, na pista sentido Barra, há uma saída para as favelas Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau, também na Maré. Essa saída também é devidamente sinalizada.

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A Prefeitura do Rio informou que a Lamsa, concessionária que administra a via expressa, será multada porque "o projeto de sinalização original daquele trecho da Linha Amarela conta com uma placa na entrada da Vila do João e sua manutenção é de responsabilidade da Lamsa". Segundo a nota, a prefeitura solicitou que a reposição da placa seja feita imediatamente.

Já a Lamsa disse que "cumpre rigorosamente as normas estipuladas em relação à sinalização em todos os acessos e saídas principais da via, seguindo as regras estabelecidas pelos órgãos competentes para toda a cidade". A concessionária afirma ainda que "havia uma placa no local que, por ter sido danificada no início do mês, foi retirada. O prazo para a recolocação é amanhã (terça-feira, 11)."

Policiamento reforçado. A Polícia Militar informou que "divulgará em breve um esquema especial de segurança a ser implantado no trajeto entre o aeroporto e a Avenida Brasil", trecho onde o engenheiro foi baleado. Segundo a corporação, o 22º Batalhão, localizado no Complexo da Maré, "mantém rondas ostensivas no local. No entanto, operações na comunidade só acontecem depois de planejamento, para evitar que inocentes sejam feridos". De janeiro a maio, as unidades especializadas da PM realizaram 15 operações na Maré "para buscar armas, drogas e criminosos". A nota diz ainda que o conjunto de favelas está no cronograma de ocupação para implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A data, no entanto, não foi divulgada.

Formado por 15 favelas cujo controle territorial é dividido por duas facções de tráfico de drogas e por uma milícia, o Complexo da Maré possui cerca de 130 mil moradores e atualmente é uma das regiões mais perigosas do Rio. O conjunto de favelas é cortado pelas Linhas Amarela e Vermelha, e pela Avenida Brasil. A comunidade é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim e precisa se deslocar em direção ao centro, à zona sul ou à Barra da Tijuca.

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