CAMBERRA - A Austrália decidiu retirar seu embaixador na Indonésia, como um gesto de protesto após a execução de dois australianos nesta terça-feira, 28, afirmou o primeiro-ministro, Tony Abbott. “Respeitamos a soberania da Indonésia, mas deploramos o que aconteceu.”
“Essas execuções foram cruéis e desnecessárias”, completou, em Camberra, em uma coletiva de imprensa convocada apenas para demonstrar a insatisfação com todos os pedidos de clemência recusados. É o segundo caso de retirada de um embaixador do país asiático após um fuzilamento - o primeiro foi o do Brasil, após a morte de Marco Archer, em janeiro.
Abbott não deu mais detalhes sobre o que poderá ser feito. O presidente indonésio, Joko Widodo, elegeu-se no ano passado com uma campanha conservadora e populista, que defendia a pena de morte como forma de coibir a violência e o narcotráfico. A medida tem amplo apoio interno e rejeição internacional. Widodo já teve de ignorar apelos para que as execuções fossem canceladas até do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon.
Os australianos Myuran Sukumaran e Andrew Chan haviam sido condenados em 2006, como integrantes de uma gangue de tráfico de heroína conhecida como Bali Nine. Andrew Chan se casou nesta segunda-feira na ilha de Nusakambangan. Seu irmão aproveitou para pedir clemência para os recém-casados, mas sua solicitação também não foi atendida pelas autoridades asiáticas.
Propina. A Austrália põe em dúvida todo o processo de julgamento dos fuzilados. Isso porque o ex-advogado da dupla, Muhammad Rifan, denunciou que teria concordado em pagar U$S 101 mil a juízes para reduzir a sentença deles a uma pena inferior a 20 anos.
Jornalistas australianos que escrevem há anos sobre o círculo de drogas na ilha, como Kathryn Bonella, relatam que os casos de propina são comuns na ilha - e cada pena teria um preço.
Chan e Sukumaran foram presos em 2005 no aeroporto principal de Bali, por tentar contrabandear 8 quilos de heroína para a Austrália. Os outros integrantes da quadrilha Bali Nine, todos australianos, foram condenados a penas que variaram de 18 anos à prisão perpétua.
Rifan afirmou que o acordo só foi desmanchado quando os juízes disseram ter recebido ordens superiores do governo para impor a pena de morte. E ele não teria dinheiro suficiente para pedir uma revisão da sentença dos condenados. O porta-voz do governo indonésio, Tony Spontana, afirmou que o caso será investigado.