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Entidades denunciam violações em Pedrinhas

Segundo ONGs, banho de sol ocorre uma vez por semana e facções controlam penitenciária; governo do MA admite problemas

Por Isabela Palhares
Atualização:

Os agentes penitenciários vestem toucas para encobrir o rosto e usam balas de borracha e gás de pimenta para "controlar" os presos; o banho de sol acontece apenas uma vez por semana e em celas superlotadas; e os detentos recebem roupas limpas apenas a cada seis dias. Depois de se tornar famoso pelo registro de 60 mortes em um ano e, até mesmo de decapitações, este é o atual cenário encontrado no complexo prisional de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão. 

O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) admitiu que a situação não é "perfeita", mas disse que faz parte do processo de "retomada do controle" do presídio que, segundo ele, até o ano passado era comandado não pelo Estado, mas sim pelas duas principais facções do Maranhão: o Primeiro Comando do Maranhão (PCM) e o Bonde dos 40. "Por enquanto, estamos em um modelo de transição, mas ainda não conseguimos quebrar totalmente o poder das facções", admitiu Dino.

Em junho, Pedrinhas estava com 45% a mais de presos, além de sua capacidade de 1.786 vagas Foto: COMISSÃO DIREITOS HUMANOS

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Quatro entidades de proteção aos direitos humanos visitaram o presídio nos dias 9 e 10 de junho e constataram, com o relato de detentos e funcionários, diversas violações no local. Essa é a primeira visita do grupo ao complexo neste ano. Só nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados quatro homicídios e 14 fugas no local. 

O problema de superlotação ainda foi "ampliado", segundo Dino, por causa do aumento de 10% da população carcerária do Maranhão no primeiro semestre deste ano. Em junho, Pedrinhas estava com 45% a mais de presos, além de sua capacidade de 1.786 vagas.

Denúncias. De acordo com o relato das entidades, a única divisão respeitada no presídio atualmente é a das facções. Presos de diferentes regimes, idades e gravidade de crimes cometidos estão todos juntos. "Quem escolhe a lógica de funcionamento do presídio ainda são as facções", disse Rafael Custódio, coordenador do programa de Justiça da ong Conectas Direitos Humanos e um dos que visitou o complexo. Por conta da separação, os presos hoje ficam até 30 dias na cela de triagem. Antes, ficavam em média dez dias.

Para Custódio, é evidente que a tentativa de recuperar o "controle" do presídio e reduzir as mortes ocorre por meio de ações violentas do próprio Estado. Segundo as denúncias, além de só terem direito a banho de sol uma vez por semana por uma hora e meia, os detentos também só recebem troca de roupa a cada seis dias e não há kits de higiene para todos. 

Penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Além disso, os presos relataram que são agredidos pelos funcionários terceirizados do complexo. De acordo com as entidades, na visita, foram encontradas cápsulas de balas de borracha e marcas de tiros nas paredes. Os detentos também disseram que são agredidos com cassetetes e que é comum o uso de gás de pimenta dentro das celas - sendo que essa seria a forma de "avisar" os presos para saírem para o banho de sol. "Eles se aproveitam dessa 'invisibilidade' [da touca que encobre os rostos] para agredir e torturar os presos, sob a alegação de que estão protegendo sua própria segurança", disse Custódio.

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Na cela chamada "Casa de Reflexão", local onde são enviados quando apresentam mau comportamento, não há camas e uma abertura na porta é a única entrada de ar. Os detentos que estavam no local no dia da visita disseram que os agentes entram nessa cela apenas para agredi-los.

Reestruturação. Dino disse que a reestruturação do sistema penitenciário do Maranhão depende de duas medidas preparatórias: o fim da terceirização dos agentes penitenciários e da abertura de novas vagas em presídios. Para isso, quatro novas unidades penitenciárias serão construídas até o fim do próximo ano, além da reforma para ampliação de quatro unidades. 

Duas das reformas serão concluídas ainda esse mês, segundo Dino. A contratação de 960 agentes concursados também deve ser iniciada ainda em julho. "Estamos fazendo essa transição com essas duas medidas para progressivamente ir humanizando a execução penal. Agora, eu não posso fazer isso por decreto, não é um ato de vontade pessoal, não é milagre. É um processo de mudança que está em curso".

O governador também disse que das quatro mortes ocorridas neste ano, três já tiveram os inquéritos concluídos e os autores dos homicídios identificados. Dino disse ainda que os avanços em seus sete meses de governo são "consideráveis e notórios" já que na gestão anterior, de Roseana Sarney (PMDB), havia um "total descontrole".

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Em nota, Roseane disse que causa "estranheza" o posicionamento de Dino que "insiste em manter o discurso de crítica à gestão passada do complexo". A ex-governadora também disse que a situação vivida em Pedrinhas em 2013 foi superada já no ano passado quando uma série de medidas foram adotadas.

União. O ministério da Justiça informou que tem um plano de ação integrada com o governo do Maranhão e que desde o ano passado já repassou cerca de R$ 3 milhões para o aparelhamento do sistema de saúde penitenciário do estado, sistemas de monitoramento e monitoração eletrônica de presos. "Todos os estados que passaram por situação de convulsão em seus estabelecimentos prisionais tem um acompanhamento priorizado", informou em nota.

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