RIO - Império Serrano, Estácio de Sá, Viradouro, Caprichosos de Pilares, Porto da Pedra, Acadêmicos da Rocinha, Renascer de Jacarepaguá, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos de Santa Cruz, Tradição, Inocentes de Belford Roxo e Em Cima da Hora. As doze escolas já passaram pelo Sambódromo no grupo de elite do carnaval do Rio - algumas, como as três primeiras, têm passados gloriosos e apaixonadas torcidas -, mas hoje sofrem com a penúria da Série A, a segunda divisão da festa.
Falta de dinheiro, de espaço e de infraestrutura são os principais problemas das 17 escolas da Série A, que desfilam nesta sexta e sábado. O apoio da Prefeitura é de R$ 700 mil (no Grupo Especial, o valor, somado a outros repasses, como a renda obtida com a venda de CDs com os sambas-enredo, chega a R$ 2,5 milhões) e as agremiações não contam com barracões apropriados. Algumas mantiveram carros alegórico ao relento - por sorte, quase não tem chovido.
Os galpões são improvisados, não têm altura suficiente para comportar os carros alegóricos, sofrem com falta de água, ventilação, luz e cobertura adequada. Ficam em áreas degradadas do área central do Rio e não contam com policiamento (as escolas providenciam seguranças).
Uma saída é reciclar alegorias de carnavais anteriores e usar materiais alternativos para reduzir os gastos. As escolas lançam mão também do trabalho voluntário de integrantes devotados.
Os desfiles da Série A custam, em média, R$ 1,5 milhão - um décimo dos carnavais mais caros do Grupo Especial deste ano. O Império Serrano e a Viradouro conseguiram patrocínios das cidades de Angra dos Reis e Niterói, retratadas nos enredos (os valores são mantidos sob sigilo). Ainda assim, são muitas as dificuldades.
Precariedade. "Este barracão não é nada adequado. São 4,5 metros de altura, e tenho carros de 8 metros. Tenho que montá-los na rua. O telhado está falho e, quando o tempo vira, alguém corre para cobrir as falhas com plástico, caso contrário molha os carros todos", diz o carnavalesco do Império, Eduardo Gonçalves, sentado num toco de isopor.
"A Série A virou uma segunda divisão importantíssima, com transmissão pela TV, repercussão e interesse do público, mas a estrutura não acompanha", lamenta. Em 67 anos de história, o Império conseguiu o título nove vezes. Desde 2010 está no segundo grupo.
Campeã em 1997, a Viradouro ficou sem barracão por quase todo o período carnavalesco. O seu antigo espaço foi interditado por causa das obras na zona portuária e, com isso, a escola perdeu todo o material que poderia ter sido reaproveitado - um prejuízo de cerca de R$ 100 mil.
"Tivemos que trabalhar na rua mesmo. Criamos um carnaval em dois meses, pois fomos expulsos do barracão pela Prefeitura. Ainda assim, será um desfile digno", conta o carnavalesco João Vitor Araújo.
A Caprichosos, escola fundada em 1949, passou só um ano na Cidade do Samba, onde desfrutou de barracão de quatro andares, com espaços separados para a construção e montagem dos carros (onde trabalham
serralheiros, carpinteiros, borracheiros e artesãos), fantasias e administração, além de refeitório, almoxarifado e salas de reuniões. Cada galpão tem doze metros de pé direito.
"As exigências para a Série A são altas, pois temos que disputar um espaço no Grupo Especial. A sorte é que a comunidade não nos abandona. No nosso barracão pelo menos não chove dentro", brinca Amauri Santos, carnavalesco da Caprichosos.
A Prefeitura estuda a criação de uma Cidade do Samba 2 para as escolas da Série A, mas ainda não há nada certo.