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Família contesta polícia e diz que rapaz não andava armado

Policiais afirmam que adolescentes morreram na fuga, em tiroteio

Por Valéria França e SÃO PAULO
Atualização:

No extremo sul da zona sul de São Paulo, no Grajaú, não existe morador que não tenha ao menos uma história para contar sobre jovens conhecidos mortos em confrontos com a polícia. E foi de lá que, há um ano, dois amigos de infância Leandro Carmo da Silva, de 15 anos, o Lelê, e Laion, de 17, saíram numa sexta-feira para uma festa num bairro próximo. Leandro deveria ir à igreja com a mãe, mas preferiu sair com o amigo, que estava de carro, um Astra cinza. Os dois saíram no início da noite e nunca mais voltaram. ''''Esperei o Lelê, na porta de casa, com uma amiga até as 4 horas'''', diz a irmã Janaína. ''''Estava preocupada, porque ele não costumava chegar depois da 1 hora.'''' Cansada, Janaína foi dormir. No sábado de manhã, uma amiga apareceu para acordá-la e disse que Leandro tinha sumido. Pouco depois, outro amigo da rua veio com a notícia de que os garotos estavam mortos. Segundo o boletim de ocorrência, os jovens estavam num carro roubado, um Astra cinza, e não pararam quando abordados pela polícia. Os PMs que teriam perseguido o carro dos adolescentes disseram, em depoimento, que os menores bateram o carro e desceram atirando, cada um com um revólver calibre 38. Segundo a PM, os dois morreram durante o tiroteio. No carro, segundo o BO, havia marcas de balas no carro. Os exames residuográficos, no entanto, foram negativos nas mãos dos mortos e dos policiais. O Estado esteve no Grajaú. Lá, os amigos e familiares não acreditam na versão da polícia. Dizem que Leandro e Laion nunca foram vistos armados, e também não costumavam se meter em ''''tretas''''. Leandro estava na 6ª série do ensino fundamental e tinha muitos amigos. Jogava futebol e dominó, mas não freqüentava botecos. Morava com a mãe, Elizete Carmo, de 33 anos, auxiliar de limpeza, quatro irmãos e o marido da mãe. Na porta ao lado, moravam os avós e o tio, Carlos Carmo, bombeiro civil desempregado. A casa de Laion ficava a menos de 100 metros dali. Filho de um motorista de caminhão e de uma professora, era o segundo de quatro irmãos. Na delegacia, no dia da morte, a mãe de Laion, Maria Sueli, declarou que o filho nem sabia dirigir. Contou que ela tem carro, mas que o filho nunca o dirigia. A história da vizinhança é outra. Não era segredo para ninguém a paixão do jovem por carros. Na quinta-feira, um dia antes de sua morte, ele passou de carro, um Astra cinza, buzinando para a galera da rua. ''''Ele estava se mostrando, todo feliz, por causa do carrão, que pegou emprestado de um parente'''', conta um dos amigos, que prefere não se identificar. Laion trabalhava e fazia um curso pré-vestibular. Segundo a mãe, queria fazer carreira militar. ''''Seu sonho era ser bombeiro'''', disse em depoimento à polícia. Leandro e Laion foram mortos na Rua Major Lúcio Dias Ramos, no Jardim Itajaí - região conhecida por ser violenta -, por volta de 23 horas, segundo a Polícia Militar. Pouco iluminada, a via é repleta de pequenos sítios e cercada por um favelão. ''''Aqui sempre tem tiroteio. Há uma semana, morreram uns garotos'''', diz o dono de uma vendinha, que não quis dar o nome. ''''Parece que também foi por causa de um carro roubado.''''N

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