Famílias desalojadas começam a ser cadastradas

Acampados na frente da prefeitura, ex-moradores de área invadida receberão auxílio-moradia

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Depois de três dias acampado diante da prefeitura do Rio, dois deles sob chuva, o grupo egresso da chamada Favela da Telerj, instalada em um prédio abandonado da Oi na zona norte, começou a ser cadastrado nesta segunda-feira, 14, para receber auxílio-moradia. O acordo entre famílias e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social saiu em um dia tenso, com protesto e reação da PM e da Guarda Municipal com bombas e gás lacrimogêneo, segundo os desalojados.

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O protesto fechou a Avenida Presidente Vargas, na frente da prefeitura. Mulheres contaram que, para tentar evitar que a via tivesse o trânsito interrompido, foi lançado gás lacrimogêneo indiscriminadamente contra o grupo. A Guarda Municipal nega uso desse recurso.

"As crianças ficaram todas tossindo. Passamos leite de magnésia no rosto delas para melhorar. Uma menina de 5 anos teve de ser levada para o hospital", contou a dona de casa Ana Claudia Santos.

Cerca de 500 pessoas estavam no acampamento. Até o início da noite desta segunda, o cadastramento estava sendo feito em um prédio da secretaria no Cachambi, na zona norte, para onde as pessoas foram levadas da prefeitura em vans. Houve bastante confusão no embarque, uma vez que uma parte do grupo insistia para que os nomes fossem registrados na rua mesmo. Eles temiam que a desmobilização da ocupação enfraquecesse a pressão feita pelo grupo com o poder público.

"Meu medo é que eu tenha passado esses dias dormindo na rua à toa. Mas ninguém aguenta mais ficar aqui", lamentou a dona de casa Aída Barbosa, de 50 anos, que, assim como a maioria, diz não ter mais condições de pagar aluguel na favela onde mora, a de Manguinhos, na zona norte.

Aluguel. Segundo os desabrigados, a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades (a maior parte é do Jacarezinho e Mandela, além de Manguinhos) e o consequente declínio da criminalidade fez com que os aluguéis subissem. Parte deles admite já ter um imóvel e estar tentando conseguir um para parentes; até líderes do movimento contaram que não são sem-teto.

Segundo a secretaria, o cadastramento não tinha hora para terminar nesta segunda. Senhas seriam distribuídas para que oportunistas não tivessem vez. Os dados das pessoas estão sendo anotados por um grupo de cem funcionários e depois serão cruzados com o Cadastro Único para Programas Sociais, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que resulta em benefícios para famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa.

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"Eu estou confiante. Se não me derem nada, volto para acampar de novo", afirmou Carlos Alberto Santos, de 42 anos, que estava com a mulher e os três filhos, de 7, 6 e 1 ano e dois meses.

Ocupação. A chamada Favela da Telerj se formou em 11 dias em um prédio de quatro andares da Oi e foi desocupada na sexta-feira passada pela PM. Desde então, parte dos 3 mil invasores montou o acampamento na prefeitura.

Na manhã desta segunda-feira, mais de 40 crianças, entre elas bebês de poucos meses de vida, estavam com as mães. Quando a chuva apertava, as famílias corriam para a passarela coberta da estação de metrô na frente da prefeitura (onde haviam passado a noite), o que atrapalhou a chegada de trabalhadores na Avenida Presidente Vargas.

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