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Feliciano diz que ataque a menina do candomblé é 'barbaridade'

Deputado pediu prisão dos agressores; 'se forem (evangélicos), cadeia para eles. Religião não é escudo contra o crime', afirmou

Por Juliana Diógenes e Fabio Grellet
Atualização:

O deputado federal Marco Feliciano (PSC) disse nesta quarta-feira, 17, que os dois suspeitos de ferir com pedra uma menina que saía de um culto de candomblé, no Rio, quando encontrados, serão enquadrados no mesmo artigo do Código Penal usado pelo parlamentar para processar os organizadores da Parada Gay. Na semana passada, o pastor evangélico criticou a crucificação de uma transexual durante o evento, publicou mensagens de repúdio e prometeu processar os envolvidos.

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Feliciano condenou o ataque à menina que, segundo testemunhas, pode ser de autoria de evangélicos. "Nunca antes ouvi falar de tal acontecimento partindo de evangélicos. Existem loucos em todos os lugares. Se forem (evangélicos), cadeia para eles. Religião não é escudo contra o crime", afirmou o deputado. 

O pastor disse que a ação foi uma "barbaridade" e prometeu pronunciamento sobre o assunto no plenário da Câmara dos Deputados. Segundo o deputado, sua equipe jurídica busca mecanismos para apurar o caso junto à polícia. "Fiquei chocado. Qualquer tipo de intolerância deve ser extirpado da nossa nação. Lamentável", disse.

Quando atendeu o telefonema do Estado, por volta das 15h30 desta quarta-feira, o deputado disse que não teve conhecimento sobre o ataque e afirmou que ficou sabendo da notícia naquela ligação. "Quando aconteceu isso?", quis saber. Ao ser informado, respondeu: "Meu Deus, que barbaridade. É uma discriminação. Não pode ter nenhum tipo de discriminação, principalmente religiosa. Loucura isso. Pegaram os culpados?".

Meia hora antes de conversar com o Estado, entretanto, havia sido postado em uma de suas redes sociais a notícia de um portal gospel com o título 'Menina leva pedrada na saída de culto de candomblé'. Feliciano argumentou que um correspondente, e não ele, tinha publicado o link no seu perfil.

IML. A menina apedrejada na cabeça enquanto caminhava vestida com trajes típicos do candomblé, no último domingo, no Rio de Janeiro, realizou nesta quarta-feira, 17, exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). 

Embora logo após o ataque houvesse decidido não sair mais às ruas com roupas brancas e o torso (turbante) característico dos candomblecistas, a estudante mudou de ideia, ao ser incentivada a continuar se vestindo dessa forma.Nesta terça, ela foi ao IML trajada com vestes religiosas, acompanhada pela avó, a mãe de santo Katia Marinho, de 53 anos, e pela mãe, que é evangélica.

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Após o exame, a menina foi à Assembleia Legislativa, a convite da Comissão de Direitos Humanos, e acompanhou a sessão. Em discursos, vários deputados - incluindo os da bancada evangélica - condenaram a agressão à adepta do candomblé. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) lançou moção de repúdio aos agressores, que ficará à disposição dos deputados dispostos a assiná-la.

Em 18 de agosto, a Assembleia promoverá audiência pública, agendada antes da agressão, para discutir a intolerância religiosa no Rio de Janeiro.

O caso. A menina, de 11 anos, caminhava pela Avenida Meriti, acompanhada por sete pessoas que haviam saído de um evento religioso, quando dois homens que estavam em um ponto de ônibus do outro lado da rua, com Bíblias sob os braços, começaram a insultá-los. 

Segundo a avó, os agressores gritaram "Sai, demônio, vão queimar no inferno, macumbeiros" e lançaram a pedra, que bateu em um poste antes de atingir a menina. Ela desmaiou. Os criminosos fugiram em um ônibus.

A 38ª Delegacia de Polícia (Irajá), que investiga o caso, tenta localizar o ônibus para examinar as imagens da câmera interna, na tentativa de identificar os agressores.

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