Filho de escravos, Padre Victor será beatificado em MG

Padre Victor nasceu em Campanha em abril de 1827 e morreu em setembro de 1905 em Três Pontas, onde foi pároco por 53 anos

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Por José Maria Mayrink
Atualização:

Mais um negro filho de escravos, Padre Francisco de Paula Victor, será beatificado no próximo dia 14, sábado, no Sul de Minas, onde Nhá Chica (Francisca de Paula de Jesus) foi proclamada beata em maio de 2013. Padre Victor nasceu em Campanha em abril de 1827 e morreu em setembro de 1905 em Três Pontas, onde foi pároco por 53 anos. Nhá Chica nasceu em um distrito de São João Del Rei e passou a maior parte da vida em Baependi, onde está sepultada. O prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato, que beatificou Nhá Chica, fará também a beatificação de padre Victor.   Três Pontas, com cerca de 57 mil habitantes, se prepara para receber milhares de romeiros e devotos de Padre Victor, muito venerado na região. "Estamos estimando que 100 mil pessoas devam assistir à missa de beatificação", disse d. Diamantino Prata de Carvalho, bispo da diocese de Campanha, à qual pertence o município de Três Pontas. A cerimônia será realizada no aeroporto municipal, às 16 horas de sábado, 14. A cidade está localizada a 291 quilômetros de Belo Horizonte e a 344 quilômetros de São Paulo, com acesso pela Rodovia Fernão Dias no trevo deVarginha.

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Padre Victor era um jovem alfaiate em 1848, quando manifestou ao bispo de Mariana, d. Antônio Ferreira Viçoso, em visita a Campanha, o desejo de ser padre. O bispo o admitiu, no ano seguinte, no seminário de Mariana. Durante seus estudos, Victor foi muito discriminado, porque alguns de seus colegas não concordavam que um negro fosse ordenado sacerdote. A discriminação continuou nos primeiros anos em que viveu em Três Pontas. Com o tempo, o povo o aceitou e passou a venerá-lo por causa de suas virtudes, especialmente a dedicação aos pobres. Vivia de esmolas e dava esmolas. Foi nomeado cônego, mas continuou sendo chamado de padre. Quando morreu, já era considerado um santo. 

O papa Francisco reconheceuem junho um milagre atribuído à intercessão do Padre Victor - o caso de uma gravidez considerada impossível pelos médicos de Maria Isabel de Figueiredo, que tinha retirado uma trompa após uma gravidez tubária e estava com a outra obstruída. Depois de rezar uma novena a Padre Victor, a mulher engravidou e deu à luz uma menina, Sofia, atualmente com 4 anos de idade. 

Maria Isabel Figueiredo e o marido José Mauricio com as filha Sofia e Alice Foto: ARQUIVO PESSOAL

"Os médicos disseram que eu só engravidaria se fizesse a fertilização in vitro ou se ocorresse um milagre. Decidi esperar por um milagre e deu certo", disse Maria Isabel. Professora da rede municipal de ensino e casada com o cabeleireiro José Maurício, ela teve outra filha, Alice, nascida há pouco mais de um mês, sem ter feito nenhum tratamento após o nascimento de Sofia. "Acredito que fiquei curada com o milagre, mas ainda não fiz exame para saber o que aconteceu", acrescentou. 

D. Diamantino disse que o fato de Maria Isabel ter engravidado de novo, sem tratamento, confirma a ação do milagre atribuído à intercessão de Padre Victor, que foi reconhecido pelo papa Francisco, após ter sido analisado por uma equipe de teólogos e de médicos na Congregação para as Causas dos Santos. "Nasceu outra menina, foi um milagre duplo, confirmação do primeiro, e é isso que interessa, pois o importante é que Maria Isabel tenha engravidado graças ao primeiro", afirmou o bispo. A segunda gravidez, afirma d. Diamantino, confirma que a mãe de Sofia ficou boa e não sabia. 

Um avião do governo de Minas buscará o cardeal Angelo Amato em São Paulo, onde ele chegará de Roma. O arcebispo de Aparecida, cardeal d. Raymundo Damasceno Assis, e seu bispo auxiliar, d. Darci José Nicioli, estarão presentes, ao lado de outros bispos de autoridades civis. Os restos mortais e relíquias do novo beato serão expostos em urnas de acrílico para veneração dos fiéis. Maria Isabel e José Maurício, os beneficiários do milagre, participarão da cerimônia. 

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