Forças Armadas não evitariam confrontos, dizem especialistas

Pesquisadores avaliam que militarem poderiam gerar mais problemas no Rio

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Por Agencia Estado
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Especialistas que estudam a criminalidade no Rio avaliam que a entrada das Forças Armadas no combate aos bandidos não evitaria episódios como a guerra travada nesta terça-feira no Morro da Mineira por criminosos das facções Comando Vermelho e Amigos dos Amigos. Em lugar da falta de policiamento, eles apontam a crise na economia da droga, com redução de mercados e fuga da clientela - assustada, paradoxalmente, pela violência-, entre as principais causas da intensificação das guerras entre traficantes pelos territórios. Os pesquisadores acreditam que os militares, se envolvidos diretamente no enfrentamento do crime violento, poderiam gerar problemas ainda maiores do que aqueles que, teoricamente, combateriam. "Não é botando soldadinhos no meio da rua que se vai resolver isso", disse a cientista social Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec-Ucam). "Em certas ações, os militares poderiam contribuir para criar o caos". Ela afirmou que, no primeiro momento, os militares nas ruas poderiam até "ter algum efeito", mas pouco depois poderiam virar alvos ou se corromper. "Essa idéia do militar na rua, como vitrine, é muito ruim", afirmou ela. "Já colocar as Forças Armadas nas vias expressas, com patrulhamento e inteligência, pode funcionar". A cientista social insistiu que os militares só deveriam agir em casos "muito pontuais, muito específicos", deixando para a polícia a tarefa de enfrentar o banditismo. "Erro é essa idéia de que o Exército vai tomar as ruas", afirmou. Ela declarou que "nada resolverá o problema da violência rapidamente. "Não tem mágica. São duas décadas de políticas inadequadas ou omissão total. É possível que, se começarem hoje, em três ou quatro anos, no fim deste governo, se comece a inverter a curva de crescimento". Perigoso Outro estudioso da violência carioca, Ignácio Cano, considera "extremamente perigoso" envolver o Exército diretamente no combate à violência. "Na melhor das hipóteses, poderão diminuir alguns crimes de rua nas áreas para onde forem deslocados; na pior, levarão ao uso excessivo da força, porque militares são treinados para destruir o inimigo. Teríamos ainda mais vítimas". Cano acha que os militares poderiam participar apenas de algum tipo de patrulhamento de rua, não nas ações diretas contra os criminosos. Para combater a criminalidade, afirmou, é importante mudar o foco dos crimes contra o patrimônio, que atingem em geral os mais ricos, para os crimes contra a pessoa,que têm os pobres como alvo. Um caminho seria fortalecer as delegacias de homicídio e corregedorias. "O tráfico está em crise", ressaltou. "Paga cada vez menos e gasta mais com seguranças e armas. Essa é uma das causas da expansão das milícias (grupos paramilitares). Há um espírito de autodestruição. A dinâmica do conflito vai se acelerando". Silvia Ramos concorda. "As poucas áreas que ainda rendem dinheiro para os traficantes estão sendo disputadas à bala. Acho que vamos viver, ainda, momentos terríveis no Rio de Janeiro".

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